Há locais a céu aberto que são como as igrejas. Não digo os campos, os montes, os mares. Falo
da cidade que é o que sei e não sou estranho.
Não é um vazio, é um nada não-gravitacional, uma paz, muita
paz, que não se consegue sequer esboçar a tentativa de a descrever.
As palavras não dão para tudo, nem as imagens, só as
sensações.
Essa paz é bem-estar, é uma conciliação com o universo inteiro
e que mais haja.
Não é religiosa, não é mística, e nem espiritual, ou é tudo
isso, ou tem outros nomes.
Encontro lugares desses por toda a parte quando não os espero,
porque vou absorvido nos pensamentos habituais de um mortal que tem contas para
pagar, e aproveita o ritmo dos seus passos para organizar as suas
contabilidades.
Dou com eles pelo que julgo ser um mero acaso e tenho
exactamente as mesmas sensações - que não consigo descrever - que tenho quando
me sento na igreja, num fim de tarde vindo do trabalho e a caminho de qualquer
coisa.
Estou ali para descansar e olhar tranquilamente - sem rezar porque não sei rezar - para os altares, as linhas femininas e belas do órgão ou
simplesmente deixar-me estar nessa igreja
onde me sento em fins de dia e me sinto tão desligado.
Esses sítios são partes inespecificas de ruas, são esquinas
viradas ao rio, são alguns pontos de miradouros, são praças, jardins mal ou bem
tratados. São sobretudo perto de árvores, ou canteiros com flores. São seres únicos, as árvores!
Ouvi uma vez dizer que esses locais são eixos de concentração
de energias profundas da terra. Não sei nada disso, pode ser.
Sei que há locais a céu aberto que são igrejas e se as
sensações que sinto são coisa divina, então sou dos seres mais espirituais que
me conheço.
Comentários
Enviar um comentário