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Mensagens

A mostrar mensagens de agosto, 2020

NOVELA RÚSTICA - III

  Hoje, é como se fosse o primeiro dia da criação. Homens e alimárias despertam para as suas rotinas recarregados de esperança, a ilusão mais persistente com morada certa na cabeça das pessoas. Todos os dias, nas primeiras horas das manhãs, límpidas ou carregadas de nuvens a agoirar tempestades, os homens despertam convencidos que hoje é que vai ser o dia, vai acontecer o milagre: os que são anónimos vão ser reconhecidos por uma coisa qualquer, sua, e ganham fama e outros respeitos e já podem morrer satisfeitos porque vieram ao mundo com sentido; os que são conhecidos, vão ter ainda mais admiradores, que lhes estendem o tapete vermelho, para que desfilem emproados de gente importante, e também já podem morrer porque foram eles que mudaram o mundo. Vai pois ser o dia de todos os milagres, neste caso para quem tem um deus. Para os que não, vai ser o dia de todas as sortes. E o desenrolar de todos os dias é assim: começa-se a acreditar que vai ser diferente e termina igual aos anter

NOVELA RÚSTICA - II

  Num pequeno universo este, de personagens humildes e a contarem cada um meio voto de um voto inteiro de cidadão intitulado, não que estes não o sejam, mas andam esquecidos num sítio anónimo, num tempo que já não existe, sem opinião formada que influencie os eixos da terra, o Manchas, grande cão este a aproximar-se mesmo dos limites mínimos para ser humano, é o mais humilde de todos: Primeiro, por natureza própria, depois por ser cão e não ter voto na matéria - não fala a língua do António está excluído de igualdades- e em não falando não é gente e por consequência e inerência, vale um quarto de voto, o que é o mesmo de valer um por inteiro, nada. Como se falar fosse critério. A ser, nem o António, nem o desdentado e a custo o dos CTT, entrariam na categoria de homens, mal sabem eles o que dizem e muitas vezes como o dizem: algraviadas, é o que é! Consciente disso, o Manchas, não emite opiniões, conformando-se com as decisões do dono, soberano e senhor de poucas posses que incluem p

NOVELA RÚSTICA - I

  Era alegre no seu maneirismo de o ser porque na realidade não há outra forma de entender e descrever a sua alegria exuberante. No tudo e no nada, nas pequenas e nas grandes coisas, via motivos de alegria, de tal forma que quem não o conhecesse poderia encontrar um traço, uma ligeira brisa de loucura, muito ténue, que se lhe perdoava, porque como todos os loucos simpáticos, era encantador. Sendo a alegria uma banalidade, vê-se por aí muita gente alegre, assim como triste, e também melancólica, um meio termo das duas, não é comum uma pessoa passar por todos os desafios que a vida apronta com um sorriso esclarecedor nos olhos e uma ligeireza nos passos que se dá, sem que a fraqueza da tristeza o acabrunhe uma vez por outra. Era essa a sensação que António imprimia nas pessoas, conhecidas ou desconhecidas. De tal forma que alguns, os mais desmagnetizados, a quererem escapar das forças gravitacionais que nos prende à terra, por serem assim, consideravam que ele regulava de menos, ou s