Hoje, é como se fosse o primeiro dia da criação. Homens e alimárias despertam para as suas rotinas recarregados de esperança, a ilusão mais persistente com morada certa na cabeça das pessoas. Todos os dias, nas primeiras horas das manhãs, límpidas ou carregadas de nuvens a agoirar tempestades, os homens despertam convencidos que hoje é que vai ser o dia, vai acontecer o milagre: os que são anónimos vão ser reconhecidos por uma coisa qualquer, sua, e ganham fama e outros respeitos e já podem morrer satisfeitos porque vieram ao mundo com sentido; os que são conhecidos, vão ter ainda mais admiradores, que lhes estendem o tapete vermelho, para que desfilem emproados de gente importante, e também já podem morrer porque foram eles que mudaram o mundo. Vai pois ser o dia de todos os milagres, neste caso para quem tem um deus. Para os que não, vai ser o dia de todas as sortes. E o desenrolar de todos os dias é assim: começa-se a acreditar que vai ser diferente e termina igual aos a...