O tio Virgílio, que nunca soube da existência do poeta clássico romano e ainda assim conseguiu sobreviver e atingir o seu patamar de felicidade, era bombeiro na Companhia Reunida de Gás e Electricidade, nas bandas orientais da cidade, hoje um quarteirão moderno. Nunca apagou nenhum fogo, mas sempre que soava o alarme, conseguia vestir-se a tempo apesar da sua barriga, desproporcionada para a profissão de bombeiro, se bem nesses tempos, as exigências serem outras: um bom bigode, bem retorcido e colado nas pontas com brilhantina, e um ar sério e carrancudo, eram as condições de admissão. Como não exercia a sua profissão, dedicava-se ao comércio de import-export. T inha boas relações com os das ambulâncias postais dos comboios, e dinamizava o negócio entre Espanha e Portugal. Caramelos, torrão de Alicante, bonecas sevilhanas, castanholas, mercadorias afins. O Tio Virgílio era nas festas natalícias, o responsável por amassar a massa das filhoses, trabalho a que ele dava importância, com