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Mensagens

A mostrar mensagens de outubro, 2014

PORQUÊ

Há momentos que nem no humor com que embrulhamos as palavras, para que não sejam tão ásperas, se consegue tirar da cartola - depósito quase inesgotável onde inventamos os truques de mágica tontos e simplistas, que ainda nos fazem sorrir para aguentar a total ausência dos sentidos da vida – um  alumbramento  de jeito. Há realmente momentos, de vazio completo. Malabaristas que somos, ainda assim, mesmo assim, pantominamos os que amamos, distraindo-os (protegendo-os), tentando abraçá-los para que não vejam, não sintam, não chorem, não lhes passe sequer pela cabeça a ideia que viveram a sua vida em vão. O meu Pai tem oitenta anos, é e sempre foi um homem muito decente, não porque seja eu seu filho, a dizê-lo. Viveu a sua vida de uma forma banal e sem história: trabalhou muito, contribuiu sem nunca discutir ou questionar, abdicou facilmente de pequenos excessos para educar bem os filhos e depois, merecedor mais que absoluto de poder sentar-se sem cerimónias a admirar a s

FIM DE DIA NA ESPLANADA

Está um fim de dia exultante – para simplificar, satisfeito. A esplanada cumpre a função como local de encontro de pessoas que querem afrouxar. É uma mulher bonita, ainda jovem, com pequenos sinais de desleixo. Talvez não seja desleixo, pode ser um desprimor temporário. O mais pequeno dos pormenores é fundamental, e quase sempre determinante, há pessoas que se esquecem disso. Pelo desconforto forçado que imprime à sua linguagem corporal, sabemos que ela, nesse momento preciso, não se sente bonita nem interessante, e ela também o sabe, só que não autoriza essa sensação trancada no inconsciente a vir à tona. Pôr-se bonito é estimular a atenção do outro a descobrir o interessante, a acontecerem as duas coisas, ganha-se a lotaria. Mesmo com essas incertezas, esforça-se. Tenta subtilmente o contacto do corpo acompanhado das palavras, que não se revelam ao observador – só se percebe o do corpo – dada a distância entre as mesas que os separa. Quando fala com e

PIROPOS

Bom dia! Hoje vou dizer-vos carícias sussurradas nos sons da nossa intimidade. Enviar rodopiando pelos ares, piropos acrobáticos com ideias afoitas e apimentadas. Vai a caminho, num bater de asas e por pomba táxi, a flor que acabo de inventar, com cores inexistentes até ao momento em que a receberes. Hoje, é daqueles dias que desafio a minha timidez a entregar-vos em mão um cumprimento que vos vai deixar embaraçados, e vou mais longe: a flor e os piropos serão entregues com salamaleques e pantominas. Hoje, é um bom dia para fazer tudo isso. E cheguei a esta conclusão quando ainda estremunhado, me aguardava um pintaroxo no beiral da janela por onde olho o mundo, posto de vistas comigo, a desejar-me um bom dia. Considero que um fenómeno destes - tão raro - é um argumento mais que suficiente de plena felicidade. Partilho assim esta excelente boa disposição convosco. E desafio-vos a vivermos juntos este dia épico: r elatem-me em pormenor, o