* Encostados aos parapeitos das janelas, uns com a cabeça de fora, uns esticando a cabeça o mais que podem, pequenos, apoiando os queixos nos beirais para se aguentarem, uns mal se vendo os olhos, inchados de curiosidade, a saltarem das órbitras se puderem, ávidos para assistir ao que se passa, não vá caírem das banquetas onde equilibram os bicos dos pés, e perderem o lugar privilegiado. Todos a querer ver, ansiosos por serem os primeiros, para depois contarem aos outros que viram: estavam no local certo, à hora certa, a ver, são uns heróis. Ver a todo o custo e preço, mesmo que para isso se chegue à agressão, aos empurrões para desequilibrar os que estão no poleiro, e ocupar os seus lugares nos parapeitos das janelas. Querem assistir ao espectáculo, ao miserável entretenimento das misérias dos outros, uma projecção – que recusam a subscrever - das suas. E é tudo entretenimento, o que se passa na rua. Babam-se para assistir, serem meros espectadores, da vida a passar com os seus ...