Ontem foi a véspera de hoje. Eramos crianças e brincávamos, coisas datadas, de época, jogos de rua, na rua, o espaço que marcava o centro do mundo, fosse numa aldeia minúscula e remota de nome, fosse num bairro grande da cidade capital. Brincávamos e eramos eternos, inesgotáveis, felizes, sendo pobres ou ricos, ou simplesmente remediados, a maioria de nós. Ontem as meninas não brincavam com os meninos, havia diferenciação de género. Mas curiosidade, e tentativas. Não era pelo género, era por ser assim. Ontem. Gritávamos, fazíamos alaridos, nódoas negras, arranhões, rasgávamos as calças. Eramos felizes. Imortais. E as duas coisas, mesmo os meninos que ficam somente à janela, atrás do vidro que nos separava, vendo o andamento do mundo, nós, porque não podiam participar dele, decisões muito pouco sensatas das mães ou sabe-se lá de quem não os deixava ser meninos, na sua altura de ser. Erámos cruéis com eles os mariquinhas e brincávamos, fazendo galos na...