No jardim que frequento desapareceram – não as vejo há mais de dois dias – as mulheres que leem livros, absortas.
Deixaram de estar sentadas, pelo menos nos últimos dois dias a
lerem livros alheadas das pessoas, como eu, que estão no jardim só para
comentarem factos inabituais, como este.
Elas podiam distrair-se mais saudavelmente só em olhando, por
exemplo, para os melros,os pardais, outros de nome não conhecido,ou até os cães domésticos a cumprirem os
seus curtos passeios higiénicos.
Mas insistem em ler!
Mas insistem em ler!
A dizer isto, e uma das duas que leem, acaba de chegar.
Em espírito de missão, faço uma inquirição discreta. Pago,
levanto-me sorrateiramente da mesa da esplanada inflacionada e má - mas é uma esplanada
concessionada num jardim, não podia ser boa.
Finjo que vou inspecionar um insecto que só eu vi no "National Geographic" - que
existe, inventando-o eu - no relvado por trás dela. Aproximo-me pelas costas e ela sem dar conta, todo o corpo concentrado na leitura do livro, absorta. Eu tão
perto de conseguir ler o título, quando muda de página. Está forrado com uma capa de tecido protector de gosto
pessoal que ela, ou alguém próximo, costurou.
Volto atrás, derrotado, continuando a considerar que há ali uma anormalidade.
Ela, desarmoniza o equilíbrio deste jardim lendo e alguém tem que tomar uma
posição por todos. Gosto, que me atribuam, atribuindo eu este tipo de papéis importantes - a minha utilidade para a sociedade está nestas coisas.
Amanhã utilizo uma estratégia diferente: sento-me no preciso e
geodésico ponto onde ela o faz todos os dias, menos os últimos dois que não. A ver
no que dá! Se desiste e restabelece a harmonia deste jardim, ou resiste e então temos problema.
Ela há de vir cá parar! onde já se viu, na arrogância de ler , provocando a pacatez das pessoas!!
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