O senhor M. esteve vinte e um anos fechado em casa, por decisão própria - um bom apartamento -,de onde não saiu, nem para cumprir obrigações, coisas básicas, pagamentos. Aconteceu-lhe este fenómeno no dia em que foi a enterrar o amor da sua vida. Não a enterrou verdadeiramente enterrada, no sentido de uma pessoa viva que o deixa de ser - e morre – sendo obrigatório fazer-lhe o funeral. Fê-lo no sentido figurado. Como o indica a lei e ele é homem de seguir os protocolos, encomendou as exéquias da descida à terra ou da subida aos céus (na direcção que se preferir), e a defunta, neste caso viva, seguiu o seu caminho. Ele, vestiu um luto que não abandonou mais. Uma vez vestido, é até aos dias que faltam cumprir, seguindo um hábito ainda recente, dos meridionais. Faziam-no mais as mulheres, imagens de fantasmas negro baço, algumas ainda na flor viçosa de uma idade por desabrochar, tão novas, azares da vida, maridos que morreram cedo demais. O facto de ter abd...