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Mensagens

A mostrar mensagens de janeiro, 2024

ONDE ESTÁ O AMOR?

  Num lugar sem notícia, comunidade pouquíssima, ainda assim na aparência de viver feliz. Arremedo de sociedade aberta aos outros, ao forasteiro, não lhe faz perguntas, aceita-o. Como pode um desconhecido, fugido de algum horror, um pesadelo do mal, fazer-se anunciar contando todos os pormenores, quando desconhecendo as palavras certas, não as sabendo pronunciar e ser audível, preocupado que vem pela sobrevivência de procurar um local onde renasça a sua prosperidade, uma vida a recomeçar? Esta mulher veio e mal se deu por ela. Uma mulher com um olhar doce – ao olhar com atenção e pormenor, é afinal um olhar de sofrimento, como se por educação ela contivesse a dimensão do seu sofrimento, não o querendo revelar ao mundo -, trabalha sem se dar conta dela, protegida pela luz ténue de uma pequena loja numa rua quase sem moradores e movimento de vida, reduzida à sua expressão mínima. Na montra, óculo de salvação para o calor dos dias com sol, uma bandeira da Ucrânia. Seria outra band

AS CRUZES

  Tenho as malditas das cruzes que nem sei explicar bem; tenho bicos de papagaio, que até se ofendem, os ditos   - a minha médica de saúde, então! – de dizer que os tenho, e o que sofro. Até o meu marido, porque se calhar não lhe estou a pagar o dízimo em géneros como seria o esperado, não atende os meus queixumes e bate-me desalmadamente e mais por isso. Não sei se é mau-olhado, mas esperei dois anos e meio por uma consulta de um senhor doutor especialista e quando cheguei a esse dia, perguntou-me se tinha uma ressonância magnética. Eu não sabia que era preciso ter uma ressonância magnética para dizer ao mundo que tinha bicos de papagaio. E as dores que tenho e as dificuldades que isso me traz, pensei serem óbvias. Mas não. Reagendou nova consulta e pediu a dita ressonância, inserindo no sistema, porque o vi a teclar teclas no computador. Esperei e esperei e nada. Uns senhores do hospital sem me conhecerem sequer, disseram que eu não tinha condições para fazer a dita coisa de magn