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A mostrar mensagens de 2017

ADEUS ANO VELHO, VIVA O ANO NOVO!

Aproxima-se o final do ano, só faltam dois dias, e é um grande alívio, ou uma grande pena, ou ambos, ou nenhum dos dois. Uma indiferença. Uns dizem que foi saboroso, outros que foi escasso, outros que triste, muito triste, tão triste quando pessoas e seres que não deviam morreram. Outros deviam e aconteceu-lhes. Há muitas pessoas vivas e algumas são mesquinhas, demoníacas, doentias. Há também gente boa, e santos. Nasceram igualmente, a incomparável felicidade do primeiro beijo. A renovação aconteceu, mas somos de mais. Aqui cada vez mais poucos, e velhos. O mundo não melhorou nem piorou, continua indiferente, as pessoas é que o antropomorfizam, e depois vem dizer que ele está mais injusto, mais inseguro, mais tirano, mas chato. O mundo está muito mais chato. Os homens apesar de serem uns queixinhas e porem as culpas nos outros, têm o infeliz mau-hálito de darem cabo do que os rodeia e estão num processo desenfreado de auto-destruição massiva. Há quem não

DO AMOR INCONDICIONAL

Escreveu um livro, do amor incondicional. Como se vive esse amor, se é tão emaranhado descrevê-lo, escrevê-lo? Complicou mais, e quis encandear os exemplos desse amor. Avançar no índice seria subir um degrau, complicar a aposta, apresentar um amor incondicional ainda mais incondicional que o anterior,  é isso possível? Mais difícil ficou o seu trabalho de Hércules: atribuir níveis de incondicional – este tem dez miligramas, aquele quarenta. É mais forte, é para ler depois, encadeados, todos, como se fossem missangas enfiadas no mesmo fio. E são. o Amor incondicional é um algo que não se define bem a si mesmo. Uma emoção das mais fortes, um sentimento sublime, um estado de alma lapidado , sem arestas nem gumes, um estado de espírito para o descrente da alma, uma fisiologia, uma biologia, um produto acabado de conexões de sinapses que em si mesmas são a-sentimentais? Tudo isso, nada disso, isso em partes. É mais incondicional o amor do cão pelo dono, ou do pai pel

CEIA DE NATAL

O apartamento, extensíssimo, talvez sobrecarregado de mobiliário e outros objectos, era um velório, não de defunto, mas de muitas velas iluminadas. O motivo de toda a exuberante iluminária, era um bom motivo: uma comemoração, um júbilo, Deo gratias. Nascia o menino, nasceu, há muitos, muitos anos passados. A comemoração do acontecimento, um ritual, uma alegria, o momento mais alto do ano dos encontros familiares, os sinos das igrejas a chamarem à comunhão, o amor a derreter-se nas pessoas, a comemoração com os amigos, as saudações e votos aos conhecidos, inimigos temporariamente em tréguas, conseguidas com a ajuda das fumigações de compaixão, o respirar profundo. Um sentimento nobre. Mais, uma missão na vida, que toca aos seres superiores,  comiserarem pelos desvalidos. As velas de pura parafina, a exalarem um quase impercepptível olor a sebo, mas eram de parafina pura, era-lhes permitido exalarem o que lhe apetecesse, faróis acessos intermitentes no alto de castiçais de p

O TEMPO INSUBSTITUÍVEL QUE SE GASTA A FAZER UMA POSE

Um enérgico aperto de mão tem uma qualidade de acto sincero. Se for sincero, tem qualidade; um abraço, de amizade ou com intenção física pelo meio, é ainda mais atraente; um beijo, na boca, na face, nos interstícios húmidos, expectantes  receptáculos de um beijo a chegar quando chegar - no pescoço, a falta que lhe faz um beijo -, é de finura e gosto.  Gostos sensitivos, gostos de conseguimentos civilizacionais de subtil elaboração evolutiva. Milénios e mais para conseguir apurar um bem executado aperto de mão, um abraço aveludado, fraterno ou meigo, ou ambos, um beijo seja ele como for dado, sendo bom, repenicado ou lascivo. É assim que pensa e age José Alberto, homem lúcido. Do seu tempo, mas a conseguir continuar lúcido, não retrógrado, por que não dizer assim, que é importante. Sai de casa precisamente para fazer estas práticas, obrigações diárias para aquietar a sua consciência social. O seu intuito. É um homem ateu com pouca convicção nisso – com penas mas at

A PROCURA DO AMOR

O amor com a pureza de um diamante, era o que ele queria, caçador de tesouros raros. Dedicou a vida nessa busca, não parou para ganhar fôlego. Uma vida por pouco tempo que seja, é muita vida para se consumir a perseguir o amor, uma ideia de amor. Que outras escolhas são mais interessantes? Ele, um homem teimoso como todos, procurou, destapou mistérios que deram em pouco ou nada, explorou detalhadamente algumas possibilidades estimulantes, umas avançaram mais do que outras. Umas não avançaram nada. Todas as pistas tiveram um fim, e não foi triunfal. Souberam a pouco, muito poucas souberam a quase muito, nem uma pode ser considerada como a grande descoberta, ou talvez não seja bem assim. Frustração? Sim ou não, uma questão de perspectiva. Cansou-se nessa vida nómada, gastou energias suas e pagou créditos a agiotas, e com o tempo a passar, concluiu ser sensato diminuir o ímpeto brusco, sanguíneo, imponderado das buscas, tomou a decisão de encurtar distâncias, ajustar

O ESTRANHO MUNDO DA REALIDADE FICCIONADA

Ando na rua, vou para casa e escrevo. É a minha inspiração. Se isso é ficção ou realidade, não sei. Custa-me distinguir. Ainda ontem, sim, foi ontem que choveu bastante e ventanou como se mais não houvesse. Estava macambúzio e fui para a Baixa, gastar dinheiro, não tenho, mas hoje em dia não é preciso ter para se gastar. Em todo o caso fui, comprar presentes de Natal, as lojas agora fecham mais tarde e a animação dos turistas, desde que somos o melhor destino do mundo inteirinho, dura até as tantas, tarde portanto. Fui e deixei-me ficar, embalado pelo movimento das ruas, os sons dos músicos nas esquinas, o cheiro da castanha assada a preços de nova iorque, e a simpatia da gente bonita, colorida, que por cá anda, curiosa, a querer saber das nossas coisas, da cultura e assim. Acabei por petiscar e como chovia e eu gosto da chuva e é rara, decidi ir a pé apanhar o comboio ao cais do Sodré, rua augusta abaixo, na direção da praça do comércio, rua dos bacalhoeiros, e é um instante,

CIDADE DE DEUS, TERRA DOS HOMENS

Nas terras dos homens, os deuses servem os pretextos das guerras. Não por  eles, inofensivos, pacifistas, usados a contragosto. Os deuses não castigam nem permeiam. Criaram a criação e continuam nas suas vidas sem pecado. Entre si dão-se bem, visitam-se, convivem, todos primos e chegados. São os homens, que congeminando argumentos falsificados, usam os nomes dos deuses – os nomes que eles acham serem os nomes dos deuses – para se porem uns contra os outros e fazerem a guerra. E não há inocentes, são os culpados e não têm desculpa por serem crédulos, ou patetas, ou simplesmente desprendidos das coisas politicas do mundo. Os homens não se podem desresponsabilizar das coisas do mundo. São eles que aceitam vindos das suas tribos, os inquinados e de vontades venenosas, que se aproveitam da dormência dos outros para envinagrarem o caos no mundo, local que já de si tem essa tendência de personalidade. Aproveitam-se porque têm interesses e fazem do mal a

POESIA

A poesia, louca admirável, diz o que se adivinhava indizível, ninguém mais o pode fazer, sem autorização cedida pela consciência, escapa-se dela, desconsidera-a . É mal-educada com propósito e gaba-se diss o. A poesia desarma as palavras bem-comportadas que se dizem nas prosas. Numa conversa a duas, leva a melhor, com os argumentos de ser inteiramente genuína e a outra rebuscada, uma monotonia chata, dormente, que nem sequer rima. A poesia dá piruetas no ar e isso é giro; acrobacias que assumem toda a criatividade e isso é arte.  Os miúdos acham-lhe piada, ela dispõe os adultos. Os cães sem entenderem o que nesses momentos se está a passar, com os donos sob os efeitos alucinogénios da poesia, ladram. Querem dizer que estão contentes, por os donos também gostarem da poesia, não eles, é o que lhes falta para serem humanos. A poesia diz coisas sérias em frases curtas, um sentido prático da maior abstração. Mas, a favor da sinceridade, a maior parte das vezes diz

CONTO DE NATAL A ACABAR BEM

A rena-chefe andava apoquentadíssima com o desleixo do Pai Natal. Incompetência. Não o podendo dizer com essa palavra, porque aos chefes não se lhes pode dizer isso - só pensar, e que seja de boca fechada. O chefe mesmo sendo-o em todo o seu esplendor, nunca o é, incompetente. Os gnomos também não andavam nada bem, mas esses sempre foram assim: folgazões, apreciados pela sua chalaça constante e a alegria que imanam, mas muito preguiçosos. Esparramados mesmo. A praticamente três semanas do grande dia em que todos os humanos, incluindo os que têm deficiências de mobilidade, doenças crónicas, doenças terminais, acidentes gravíssimos de toda a espécie e feitio, os paupérrimos, indigentes, sem-abrigo, criminosos, os bonzinhos, remediados, muito bem remediados, os ricos, os alegres, os melancólicos, todos os crentes incluindo judeus, budistas, muçulmanos, cristãos, cristãos coptas, adventistas, testemunhas de Jeová, mórmones, amish, e restantes religiões  ( não se considere de

PODER DA MÚSICA

Rasga, ouvir uma música sacra e não ter fé. Ela a puxar os limites e nós, apalermados mas boas pessoas, querendo ir sem poder ir, ainda que indo. A música desarma os argumentos. Se fosse palavra – a música palavra -, encostavam-se interesses comuns, acordos temporários para derrubar o facto de se ficar desarmado por uma música religiosa não tendo fé. Ginásticas para se dar a volta. A música não vai em conversas de embalar, é música, dona garantida de todas as harmonias, mesmo as dissonantes. Rigorosa e inflexível, na maior das flexibilidades que se conhecem, vem do mundo das coisas etéreas, e não sendo daqui, tem as regras próprias. Pode ser desavergonhada e religiosa sendo um problema seu, não humano, livre de noções pecaminosas mesmo que até seja enxofrada. A música, leva-nos para onde quer levar que é lado nenhum mas um preenchimento de todos, uma fruição, só isso, tudo isso. Faz-nos gato-sapato, e mesmo revelando-nos ao mundo como agnósticos s