A minha tia tinha um olho de vidro e à noite afogava-o, maneira de dizer,num copo de água em cima do psiché . A água não era gaseificada, mas constituíam-se pequeníssimas e inúmeras bolhas à sua volta. A modos que um olho numa flute de champanhe. Para quem está habituado a dentaduras a boiar, esta foi uma grande ideia da minha tia. Sendo uma mulher com o sentido prático da vida, e como não se está a ver ninguém dormir com um fechado e outro aberto, não tendo outros inquilinos, arrendou o aquário ao vítreo. Foi o meu avô que lhe ofereceu o olho, mais para ganhar as graças da sogra e ficar oficializado o namoro com a minha avó, sua irmã, do que por atenções à zarolha. Foi no entanto um gesto de simpatia. Um dia já sem memória que a bicheza das campas as comeram ao mesmo tempo que as carnes, chegou a casa delas com um embrulho de papel pardo na mão e disse alheadamente: « toma, a vê se encaixa». A minha tia des...