Já falei dele, mas nunca é de mais. Gostamos de nomes pouco comuns e não diferenciando espécies animais – daí o incomum, quem é da família é da família -, damo-nos por vezes nomes excêntricos. Lembro-me do tio Tertuliano, da tia Florinda, da cadela Maria Balbina, do cão Ancónio - que depois, por consideração à minha mãe que só conhecendo o nome Paulo, ter em casa um cão com o nome desses só lhe iria complicar ainda mais a vida – , que se passou a chamar Óscar, nome que o meu sobrinho mais novo veio a ganhar, e quando souber disto não sei se irá gostar. Do Óscar, o cão, fui parteiro e coveiro, o que me extravasou de alegria, e secou-me de tristeza. Dei-lhe vida e tirei-lhe vida, e nunca quis ser deus, foi o mais próximo que estive e não quero para mim esse desígnio. Assistir à sua alvorada e ao seu crepúsculo, foi forte, e se é para sofrer, antes humano do que deus. O fim da sua história abriu uma ferida que doeu a cicatrizar. Quando os meus pais, livres dos filhos, começaram
Se fosse lobo seria siberiano, do Ártico, grandioso, por ser lobo e pelo manto volumoso que o reveste. Seria, no porte e pela atitude, uma macho alfa, como poderia ser uma fêmea alfa, desconhece-se se no reino animal há preconceitos de género. Mas não era lobo, era um magnífico exemplar dos cães pastores-alemães. Inteligentes como os seus compatriotas humanos, quase todos, porque há sempre excepções. Qualquer treinador de cães nesses idos anos oitenta do século passado, gostaria de ter algum no seu curriculum de ensinador de cães, e eu, que mal me ensinei a mim mesmo, mas que não deixo de tentar, senti o meu ego piscar faíscas de autoestima, por estar a ensinar um cão-pastor alemão a defender o património do seu dono, um bar em Portugalete , uma periferia operária da Bilbao de então. Eu bem tentei, e o curso que deveria ser de um mês já ia nos três. O animal era encantador e estabelecemos uma boa relação de amizade apesar de eu não saber falar basco, e ele também não porque era cã