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A mostrar mensagens de agosto, 2022

A AURORA DOS DIAS

 É em momentos inusitados, que se aprecia como um sopro suave e cálido de um final de dia de verão, o cair da noite que traz consigo num sossegar particular e seu, uma paz ao mundo, a intenção. Conciliamo-nos esboçando o movimento lento e simbólico de um abraço, e ficamos expectantes e noviços, pelo dia de amanhã, que virá pleno de todas as possibilidades e impossíveis. Para ser genuíno e credível, o que importa é haver total desconhecimento e nem sequer antecipação certa, de como vai ser o dia de amanhã. Sendo assim, ficam reunidas as condições para voltar a acontecer o deslumbramento inigualável e irrepetível, de que amanhã, afastadas todas nuvens negras, o mundo renasça puro e absoluto. Se for assim que aconteça, que seja tão belo que lacrimeje os olhos, de alegria e fé, uma fé primordial e ateia, de que vale a pena estar vivo, para assistir a esse nascer do dia novo, e com ele, a criação de todos os sonhos utópicos e poéticos.

FOGACHO DE UMA MEMÓRIA

Seria uma catedral gótica, o silêncio, o som vago das lajes de pedra concordando em suster o peso enorme de todo o edifício, figuração alegórica, a terra que suporta o peso do céu; uma ausência de som que não é uma ausência de som, mas sim murmúrios; o ranger tímido do soalho de madeira antiga de não querer incomodar a harmonia da serenidade. Um miúdo rasgando o tempo de fim de tarde desse espaço quase religioso, miúdo irrelevante, estarrecido nessa sala vazia de outras pessoas, fascinado pela parede de livros que lhe parece assumir uma dimensão, precisamente, de catedral. Onde estão os da casa, não se sabe. O miúdo espera por alguma razão que será a de brincar, o seu amigo, o da casa, que pode estar nesse momento no quarto a estudar e por isso a sala está vazia e o miúdo experimenta essas sensações em solidão. Não se toca num altar, nem por curiosidade. Assim, ele olha, quer, mas não toca em nenhuma das lombadas que o atraem tão magneticamente. A pedir que sejam lembradas, esc

O PESO QUE AS PEDRAS PESAM

A verdade, seja o que ela for, é que sempre me senti embaraçado. Desde que tenho a noção clara de que penso autonomamente. Com o tempo e as etapas da vida, não consegui pacificar-me dessa sensação de corpo estranho, que está a mais, um grão obstinado que empena a engrenagem de funcionar convenientemente. Pode ter sido meu o equívoco, não terei entendido e reagi de formas inapropriadas. Acho que não. Eles não podiam ser mais diferentes: um, histriónico, a chamar a sua atenção cansativamente; o outro, intelectualmente árido. Os dois, cada um a seu jeito, sempre a esgravatarem vias para desmontar a ilusão dos sonhos alheios. A verdade, também, a minha verdade, é que eu não queria nutrir essa antecâmara de sentimento frustrado, ninguém quer. Todos ambicionam o seu contrário: o deslumbre, o fascínio ofuscante, a imitação do modelo, construir um pedestal em mármore valioso para os seus heróis, semideuses do nosso Olimpo privado. Essa pedra pesadíssima com o peso que pesa todo o mundo e

DIGO, NÃO DIGO

  Um dia, dá-me - ai se me dá para aí! – Dizer que gosto de ti, E não vai haver quem detenha o vento, A soprar essa palavra, Que mais do que uma ideia minha, É um sentimento que estilhaça,  Na emoção inadiável de gostar de ti, Dizendo sem pudor nem vergonha, Por aí - Ressoando ecos intermináveis -, Uma palavra redonda e cheia: TU. E ai de ti, Se não gostas também de mim, Que sim.