Avançar para o conteúdo principal

Mensagens

A mostrar mensagens de setembro, 2014

UM PASSEIO A DOIS PELO CAMPO

Indiferentes – passam a vida nisto: fingem que não se veem - o ti Manel e o farrusco ancorados no mesmo sítio, cada um no croché dos seus pensamentos íntimos, ao calor das brasas da lareira. Terminaram o dia e as suas obrigações. Os acontecimentos, os actores e os espectadores deixaram vazias as cadeiras na plateia e saíram de palco. Apagaram-se os holofotes, os arrumadores limparam os sedimentos da poeira do dia, recolheram-se. O pano da noite cobre as pessoas e outros seres. O ajeitar das madeiras e outros materiais, interrompem a espaços a escuridão do silêncio, começa o turno dos fantasmas reais, dos imaginários e dos mundos dos outros mundos. É o horário das almas penadas, das fadas, dos gnomos, da trupe dos elfos e as suas traquinices. Fios de ideias esvoaçantes entram pelas janelas abertas, enfunam-se os cortinados, pisca a luz nos pavios das velas acesas, há correntes de ar que circulam nos interstícios das prateleiras dos arquivos pessoais. “Onde

O meu amigo romani

Tenho um lugar de estacionamento reservado, todos os dias da semana até às 8h30. Se me atraso, as coisas complicam-se e dou-lhe mais vinte cêntimos para conseguir outro decente, de acordo com os meus princípios.  Depois das manobras, seguindo as suas indicações e sinaléticas - como se eu tivesse uma limousina de cinco metros difícil de manobrar, quando a minha viatura, se estender o braço acaricio o vidro traseiro - fecho o veículo com um comando à distância, que me intriga por ainda funcionar, e dou-lhe a propina diária. - Bom dia chefe. Bom trabalho. - Bom dia chefe, obrigado. Foi a conversa mais profunda que tivemos nos últimos trezentos dias – descontando os descansos. Hoje é domingo, e estou numa galáxia distante da que habito nos outros dias da semana. Estou parado num sinal vermelho num bairro às portas da cidade. Não olhei mas sei por instinto que tenho um eléctrico amarelo ao meu lado. Distraío-me com a radio enquanto espero que os meus pais de

DESCULPEM-NOS

- Desculpe, não fiz de propósito! Só queria ir ao facebook colocar um autoretrato. Acho que pressionei o botão errado (as unhas de gel não dão jeito nenhum para teclar teclas de computador), e apagou-se tudo. -Deixe estar colega,não é a única, eu também peço desculpas. Errei nos cálculos, nunca tive queda para as matemáticas: para fazer o quinto ano dos liceus necessitei sempre de explicador. - É bom pedir desculpa, mais ainda quando o fazemos juntos, liberta-se o sentimento de culpa, de insucesso, a frustração de se estar sempre a errar. -Cara colega, a  dois, é tudo mais fácil. -Sabe por acaso o colega se aqui na repartição podemos frenquentar algum curso de computadores em horário pós laboral? - Já perguntou nos Recursos Humanos, se eles têm? Eu cá por mim já comecei a comprar uma colecção em fascículos semanais que sai no jornal. Chama-se: “como preencher uma folha de Excel”. Pode ser que tenha outros temas informáticos. - Obrigado colega, vou ver. Entr

Guerra

Não te sobressaltes, eu estou aqui, aninha-te na minha mão. Os sons estridentes que se ouvem no exterior não nos estão a chamar para a festa. As luzes coloridas que se veem no céu da janela da nossa casa, não estão a anunciar calendários de romarias. São sons maus e luzes feias, sons que violam os nossos ouvidos, luzes que cegam os nossos sentidos. Não nos deixam dormir, prenunciam uma guerra a bater à nossa porta. Não atendas, pode ser que vão embora. Vamos fingir que não estamos em casa. Apaga a luz, e finge. Os tambores estão a assustar os animais. Oiço-os balir, coitados dos animais. Imagino – mas não distingo os rostos - homens que fazem tremer o chão com os tacões das suas botas pretas infetas. Levam aos ombros estandartes de mau gosto, e caminham em uníssono para nos amedrontar e espetar os pálios aguçados nos locais das novas conquistas. Imagino que à sua frente, outros homens a quem ninguém pediu opinião, disfarçando o choro para dentro, para não