António apaziguou. Caiu em si. O seu tempo de eternidade, de herói do Olimpo humano, esgotou-se, desvaneceu sem que se desse conta, algures numa data que marcou a sua transição de adolescente a adulto. De todos os sonhos e todas as possibilidades, reduziu-se a sobreviver, cumprindo pelas normas, as regras desse jogo absolutamente desinteressante e ansioso, de levar a vida por ondas calmas mas entediantes, até ao destino final. Uma vida sem glória, uma banalidade. Casou, procriou, trabalhou que nem um desgraçado; viu a mulher morrer prematuramente, continuou a trabalhar que nem a um cão se deseja; os filhos emigraram e fizeram novas vidas num novo país, um novo mundo - agora o deles - trabalhou ainda com menos energia mas ainda assim, um escravo; e deu de costados e o corpo por inteiro, em velho, a arrastar-se com o trabalho, o infindável trabalho, para a bucha, para se entreter – não tem mais nada com que se entreter -, até que morra, incógnito, anónimo, redundante, definitivam...