Temos dos climas mais afáveis da vizinhança, mas ficamos em
casa. Nem para abraçar os nossos correligionários nos damos ao trabalho – que
seria prazer – de sair e visitá-los.
Ficamos, e entricheirados.
Ficamos, e entricheirados.
Semi corremos
a cortina da janela e olhamos de soslaio para a rua. Observamos os corajosos
que se aventuraram a passear num dia perfeitamente inofensivo, apesar de
chover, que faz falta.
Estamos a vê-los mas eles não sabem da nossa existência, vêem estores brancos.
Estamos a vê-los mas eles não sabem da nossa existência, vêem estores brancos.
Não saímos à rua, mas o facto de termos montado guarda na
janela como observatório do que se passa lá fora, é como se tivéssemos saído.
Quando cai a noite vamos contar aos nossos, à volta da mesa,
que somos corajosos e sabemos tudo o que se passou na rua, porque estivemos lá,
no local próprio, fora. Ou seja, na fronteira marcada pelo vidro da janela, vasculhando com o olhar mortiço o movimento, fora.
Somos heróis dos sonhos, ou da preguiça, ou de nada para além
de uma vontade imensamente frouxa, uma força magnética inultrapassável, que nos
prende ao soalho em parquet da nossa casa.
Como queremos saber do mundo se não o calcorreamos?
Como queremos ter opinião se não ouvimos os outros, nem lhes
falamos, de frente e ao vivo, como é próprio e conveniente nas conversas que
têm sentido?
Aos que se obrigam a sair e se encontram, é bom. Manufacturam
conversas e chalaças e no regresso a
suas casas voltam satisfeitos.
Chovia, mas afinal foi como se tivesse feito um caloroso sol e
o céu estivesse estado todo o santo dia azul e despegado, como deve ser um céu
que se faça gostar.
Até ao próximo passeio, que nos vejamos é o desejo.
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