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A mostrar mensagens de março, 2023

MUNDOS PARALELOS

É muito fácil de entender. É como o bolo mil-folhas, são as dimensões paralelas. Universos em camadas. Uma dessas camadas, de massa folhada, é a do admirável mundo das folhas de Excel. Nada de outro mundo, porque há mundo assim. Na casa do grande Bingo, com a marca Bing Bang , à medida que saem as bolas numeradas, os seres são direccionados para uma dessas camadas de mil-folhas existencial. Os das folhas de Excel, que desconhecem a existência de outros mundos, vivem obcecados com a quimera de construir a folha de Excel perfeita. Irrefutável, irrepreensível, cheia de “macro”, fórmulas infalíveis, cálculos sem erro. Como o bolo mil-folhas constitui-se de camadas finas sobre camadas finas, entremeadas por cremes ou doce, assim os mundos, por vezes comunicam, se bem que muito esporadicamente, e os habitantes de cada um desses mundos não vê nem percebe o que está a acontecer, porque não acredita na possibilidade dos mundos paralelos. Assim que o efeito desse contacto é sempre nulo. Ni

O BACALHAU DÁ-NOS TUDO

Nos manuais, talvez já mais do que ultrapassados, do marketing e das vendas, quando se queria identificar um potencial cliente para um produto, havia algumas categorias onde se podia colocar esse possível cliente. Uma delas era a dos “Aderentes rápidos”, aqueles que com pouca conversa, aderem imediatamente ao que lhes é proposto (esse tipo de cliente, não se julgue que seja em reduzido número, pelo contrário, de todas as classificações, é a que mais “aderentes” tem). O meu pai, em quase tudo, era um aderente rápido, tão rápido que muitas vezes ainda não o tinham doutrinado levando até ao fim o relambório, e já ele, estava a levar para casa o que lhe quisessem impingir. No seu manual imaginário, de como um pai deve educar o filho, no capítulo dos suplementos alimentares de alto rendimento e sucesso inquestionado, tinha à frente de todos os outros e com distância, o Óleo de Fígado de Bacalhau. Era bom para tudo, um superalimento, não precisava de argumentos científicos, era um dos

O MEU DIA É O NOSSO DIA

Dizem que é o meu dia, o nosso dia. Devo aceitar. No entanto, não gosto de ser comemorado, nem ter um só dia que seja meu. Desejo-os todos, não para que sejam somente um bom dia de calendário, um simbolismo, mas para juntos, eu e todos, vivermos gloriosamente, intensamente, amando-nos, este espanto doce que é viver. E se querem saber, o meu dia, o meu grande dia pleno e cheio, foi quanto vocês germinaram, vivendo também para contar os dias, os vossos. Nesse momento irrepetível, compreendi a eternidade. Longe ou perto, colou-se a mim, a minha pele, a vossa companhia, a vossa cumplicidade, o nosso amor, e nunca mais passeei sozinho. Viva, pois, os dias infindáveis, o tempo ameno e a passagem pingante e compassada do tempo. A vocês!

FIGUEIRÓ DOS VINHOS E O FENÓMENO IRRESISTIVEL DO ENCANTAMENTO

 

A LIVRARIA E PAPELARIA ESPAÇO, lda. – em Algés

Teria os meus seis, sete anos de idade. Miudinho no entendimento da poeira das coisas complexas (talvez ainda permaneça nessa casa de partida), quando me fascinei por uma montra de uma loja, expondo livros, objectos que via pela primeira vez numa quantidade que não compreendi. Um quadro vivo, com dimensões e texturas, e muitas cores, umas intensas, outras esbatidas. Apaixonei-me, sé é permitido a um rapaz dessa idade apaixonar-se (deve ser, porque a paixão não é amiga da razão e um catraio de seis anos tem pouca razão). Pelos títulos dos livros. Nessa altura ainda não sabia que havia livros – alguns entre os melhores que já se escreveram – em que está tudo dito nos títulos que lhes dão, não merece o esforço desperdiçar momentos, com a dolorosa agonia das frases que se amontoam nas páginas, tantas vezes excessivas. Tempo perdido. No entanto e dando a sensação de que se procuram sempre compensações que restabeleçam a harmonia das coisas, há muitos livros que não deviam ter título,

A ZÍNIA

OS melhores croquetes da via láctea e arredores. Os rissóis de camarão igual. Eu não conhecia outros - nunca tive espírito científico -, pelo que estes ganhavam sempre, eram imbatíveis e deliciosos. No tempo em que se cozinhava em casa e os locais de venda de comida pronta a deixar-se comer ainda não sabiam que não tinham sido inventados, até mesmo os supermercados, que andavam na barrigas das suas mães, a Zínia era pioneira do pague menos e fique bem servido; leve a comida embalada e é só comer sem ter que se dar lume aos bicos de gás. Foi dos primeiros estabelecimentos a ter aquelas redomas de vidro com frangos espetados em fila, a andarem à volta como num carrossel de feira, neste caso para galinhas póstumas. Ganhavam uma cor rosada e não era pelo esforço de se afoguearem, mas ao fim de não sei quantas voltas que nunca as contei. Era por ordem de chegada de cliente, quando ainda não havia aquele sistema de senhas numeradas, uns mais espertos do que outros, ou com mais pressa d