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A mostrar mensagens de abril, 2022

ESPARTILHOS

  Para quem estava habituado ao convívio frequente com o olho de vidro da minha tia Florinda e com as dentaduras postiças em banhos-maria nos copos de vidro, espalhadas pelas mesas de cabeceira das casas familiares, coisa que ao princípio me intrigava porque eu, os meus dentes, não os conseguia tirar nem pôr, os pequenos relicários com dentes minúsculos, avulso, e pequenas madeixas de cabelo, eram banalidades que mal prestava atenção. O que me assustava mesmo, mas a que não resistia de pregar o olhar e se pudesse a mão, era um relicário muito particular que uma irmã da tia do olho falso, tia, portanto, trazia sempre ao peito, pendurado num fio, supostamente de prata, em contraste com o seu semblante carregado, o rosto mais melancólico que eu conheci, o seu vestido negro, o lenço preto a apanhar os cabelos. Toda ela escuridão. Todos sabíamos o que continha e a história triste que lhe estava associada. Mas para mim era um impulso irresistível, um dia tinha que o possuir. Não havia forma