Um tédio, escrever. Se era só para si, por que fazê-lo, se punha e dispunha em privado desse eco na cabeça? Por que passar ao papel quando se perde tanto na tradução do pensamento? Deu-se conta disso, não do tédio, quando se viu - uma vidência instantânea e sorte em tê-la -, atafulhado de coisas escritas. Uma acumulação como outra qualquer. Não de colecionador. Um juntar sem um objectivo, nas gavetas, em prateleiras, caixas. Para amanhã, que amanhã? Guarda-se com medo de perder, ou então, por pudicícia, a modéstia dos ingénuos. No seu caso, não guarda por nenhuma razão especial a não ser o facto incontornável – para si – de que não consegue fazer outra coisa senão escrever, independentemente do descrédito de sentir que exerce com carácter de regularidade diária, uma pulsão, de absoluta inutilidade. Não a abandonar, destruindo o produto dessa promiscuídade, era a forma airosa -coisa neutra - de se desculpar por não ter desenvolvido habilidade para actividades