Onde andam os meus, que já não habitam a casa onde moro? O Mário, a Maria? O António, a Amélia? Onde estão eles? O Albano, A Custódia dos olhos de mel? A Florinda do olho de vidro? A suave Silvina? O Virgílio, comediante sério? De alguns, os ecos são longínquos e quase inaudíveis. O Américo, a Lurdes, o Carlos que cantava canções de amor? O Carlos, menino eterno da Terra do Nunca? Distingo algumas vozes, outras esfarelam-se no pó do tempo. Há rostos deles, bem desenhados e completos; outros que são nevoeiro. E o Jorge tranquilo e demasiado prematuro? Onde andam os meus nesta casa nova que não conheceram? Andam comigo, eu trouxe-os, mas alguns já mal os sinto. E não queria. Estão todos nos fiapos das recordaçõs. Salpicam intermitentemente o meu quotidiano quando emergem, sem pedir licença, na espuma dos meus dias, para se afundarem de novo nos labirintos da minha memória. O mês de Dezembro é um mês cruel. Tem uma cratera aberta no breu da solidão. ...