Nas janelas do prédio em frente assisto a movimentações de sombras, semi-obscuras, seres viventes. Um homem idoso, sempre com o mesmo pijama, fuma um cigarro, olhando de relance para a rua e volta rapidamente para uma zona sem luz em que o deixo de ver. Vê-se pouco esse homem, abeira-se pouco da janela. Tenho a sensação, talvez errada de que fuma desistidamente. Uma menina ainda muito menina, dá pulos e pulos no sofá branco da sala e consegue-se perceber isso melhor, em determinados momentos do dia quando o ângulo da deslocação do sol permite incidir a luz na janela. A mãe da menina, cola animais e flores recortados em cartolinas coloridas, na janela da sala, talvez para a menina imaginar que a paisagem, lá fora, é todos os dias diferente. Eu, que não sou a menina, imagino, e gosto. Um homem, janta todos os dias à luz de velas, sozinho, compenetradamente, não sabemos o que estará a pensar. Nunca vem à janela. Dá a sensação de ser um homem solitário, pela forma...