Um Aerograma “Mariazinha minha doce amada. Penso que não te ofenderás se disser doce, menos ainda, amada. Não nos conhecemos em corpo, tu aí na metrópole, eu aqui nesta África por obrigação, mas chegará o dia, ambos o esperamos com a ajuda de um destino superior, que ajude a realizar o nosso encontro físico. Até lá, com o que já nos escrevemos, minha madrinha de guerra, ganhámos tanta intimidade que me permito sem vergonha e esperando que tu não cores, apaparicar-te com essas duas lindas palavras. Doce Amor. Amor Doce. Hoje no entanto, estou triste. Escrevo-te em azul petróleo, para não dizer negro. Aconteceu morte, a nossa rotina nesta espécie de profissão obrigada. Deveria parecer que estamos habituados a ela, mas nunca estamos, menos ainda quando nos leva um próximo. Lidar com a morte não é o mais difícil. O primeiro luto é pesado e lento, mas depois de se instalar repetindo-se todos os dias, praticamente, torna-se como todas as coisas, numa sensaboria. ...