Quem anda num Rolls-Royce, nunca mais é a mesma pessoa. Quem anda num Rolls-Royce em pequeno, nunca mais vai ser a pessoa que sonhou ser a não ser que ainda assim a queira ser, apesar do abalo sísmico de ter andado num Rolls-Royce. O bairro do Restelo em Lisboa, nos anos sessenta do século passado, antes da contaminação das embaixadas e das residências de indivíduos de duvidosa proveniência, cheios de dinheiro malcheiroso e desconfiável, era um bairro rico, mas pacato. Familiar, uma certa burguesia abastada lisboeta, que não era efusiva. Eram tempos em que se não dava nas vistas e quem tinha Rolls-Royce não andava por aí, a anunciar ao mundo, que o tinha. O ambiente do bairro acompanhava o ambiente tépido e dormente de uma capital muito pouco cosmopolita e de um império provinciano e humilde. Nada de particularmente interessante acontecia na cidade, a não ser as novelas das traições, dos adultérios, das misérias familiares humanas, sempre as mesmas, sempre repetidas, semp...