Há anónimos que escrevem mensagens em
grandes superfícies, por todos os lados do urbano: muros, fachadas de
edifícios, pontes.
São mensagens de desconhecidos para
destinatários desconhecidos.
Por vezes têm nome no final, um nome
próprio, um nome banal, nada mais. Estas são frases de intervenção, de cidadania
vertida ou invertida, são pinceladas de amor, ódios, raivas, queixumes.
Algumas acompanham-se de pinturas,
riscos e rabiscos, os grafites, onde a assinatura não é um nome mas um símbolo,
para alguém entender, um código, da tribo.
Algumas destas composições, a que uns
chamam arte, e outros torcem o seu convencimento disso, enchem momentaneamente o
olho, e a alma, de transeuntes sensíveis, parados num semáforo, mal
estacionados em dupla fila, esperando os filhos saírem da escola, ou de entrarem
na aula de ginástica, numa paragem de eléctrico, encostados a uma parede a
verem as vistas, distraídos nos pensamentos, do quotidiano, com os seus botões.
Muitas destas palavras, frases, imagens, são um alento que quebra momentaneamente a concentração de cada um nas coisas suas.
Muitas destas palavras, frases, imagens, são um alento que quebra momentaneamente a concentração de cada um nas coisas suas.
Um respingador destas frases e destas
palavras, que seja metódico e que as junte as mais que puder, faria um manual
da existência humana, onde caberiam todas as filosofias, todas as religiões por
junto, as teorias dos comportamentos, das ciências sociais e políticas.
E também, um tratado sobre o Amor.
Elas andam espalhadas por aí, à mão de
semear, ao olho de se olharem.
Quando saírem à rua, abram bem os olhos,
não se adormeçam. Cada vez mais, precisamos de perspicácia: caçadores avisados
de boas frases.
Adorei Luís.
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