“Meu
irmão, como te vai passando o tempo? Estimo que bem, na companhia de quem mais
amas.
Estranharás receber uma carta, minha, quando já não se usa escrever.
Não
sei mesmo se ainda haverá selos, para a pôr numa caixa de correio e chegar até ti.
Escrevo-te uma carta porque acredito que
entre o seu envio, a sua boa recepção e a resposta que depois se espera, gera-se
uma bolsa de tempo que admite o arrefecimento e a ponderação do sentimento, o
que dá a possibilidade à razão de corresponder de forma apropriada.
Oferece-se
um tempo extra para levedar a resposta, e o que dai sair é com certeza mais
sensato.
A
vida tem destas coisas, afastamo-nos sem razões nem motivos, e vamo-nos
afastando sem razões nem motivos, e quando damos conta – agora – já estamos
longe, perdemos o pé. Numa situação destas a que nunca deveríamos chegar, não
se sabe o que dizer para reiniciar a
conversa interrompida, num tempo esgotado em que nos perdemos um do outro..
Se aceitarmos alguma humildade, nunca é tarde,
nem impróprio. Um de nós tem de ser o primeiro a estender os braços e abrir as
mãos. O outro basta manter-se disponíveil para voltar a abraçar.
Se me
reponderes na volta, o processo põe-se de novo em marcha, reatamos todas as
pontas e o primeiro enlaço, depois do último há tanto dado, será de um prazer inexprimível.
Toma
o teu tempo, não te apresses, porque quando me enviares a tua carta, concluímos
a conversa que deixámos a meio, partimos de imediato para uma nova, e nunca mais seremos interrompidos.
Tanto
é o apreço por ti que não sei como rematar esta missiva, pelo que não haverá
melhor forma senão responderes, e fica tudo dito.
Anda,
escreve-me um destes dias.”
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