Corre apressado o miúdo com uma bandeira na mão. Vai compenetrado. Onde vai ele que vai tão sério? É o porta-bandeira. O catraio, ainda criança, vai decidido. É a sua bandeira, com as cores que mais gosta. Ele veste uma camisola vermelha com o nome de um país, escrito a dourado, nas costas e uma cruz ao peito. Apesar da urgência dos seus passos ainda curtos de criança, consegue-se perceber no que se vê do seu rosto ainda imaculado, quase escondido pelos longos caracóis do seu cabelo, oiro, reflexos brilhantes com o soprar da brisa leve que se faz sentir neste dia de calor, que ele sorri. Vai, portanto, alegre e apressado, porque leva consigo, bem segura na sua mão frágil e apoiada no ombro, uma bandeira que é muito importante. É a sua, e se vai assim, atravessando o que parece ser uma rua com uma parede amarela, é porque tem um propósito, talvez seja uma missão, que alguém lhe deu, ou porque veio da sua cabecita de pequeno futuro homem, tão pequeno ainda e tão adulto nessa sua atitude.
A bandeira que ele transporta, o seu maior
bem, um tesouro que ele não abre mão, tratando-a quase religiosamente, é o
símbolo do seu país. Para o miúdo o seu país está todo nessa bandeira.
Afinal sabe-se para onde ele se dirige, vai
a caminho de uma festa, a comemoração de um dia antigo. Era o seu pai uma
criança como ele, e nesse dia longínquo, também sorriu e os sorrisos dos dois
apesar da distância do tempo, eram os mesmos sorrisos, vindos de um lugar
dentro deles, uma fonte, um caudal de emoção. Foi um grande sorriso que durou
até hoje, o dia em que esta criança, vai apressada e é nota da curiosidade do
observador.
Pode até ser que essa bandeira esteja ao
contrário, colada com fita cola num pau de vassoura partido, nada disso é
relevante e importa, o cachopo vai solene e convencido, porque é o seu tesouro.
Vai
feliz porque vai mostrar a sua bandeira a toda a gente, e para que se veja
ainda melhor e por todos, no ondular enérgico que o miúdo imprime nas duas mãos
que a agarra e desfralda, ele irá sentado nos ombros do seu pai, orgulhosos os
dois, do seu país das suaves melancolias. E descem a avenida, o palco desse
pequeno mundo onde habitam.
O miúdo não sabe, mas a sua bandeira é um
símbolo, representa a liberdade, a tolerância, a empatia, a inclusão, a
alegria, a universalidade, mas para ele é somente a sua bandeira, a mais bonita
de todas, porque é a sua e porque ele a mostra e as pessoas sorriem e gostam.
Ao ver um miúdo assim, indo leve, mas
convencido, transportando essa bandeira, não restam nenhumas dúvidas que o
tesouro está em boas mãos. Esse miúdo tem jeito, sabe transportar uma bandeira,
os dois desenham uma harmonia perfeita, nesse instantâneo captado por acaso, num
dia de sol e calor, o dia de todas as esperanças, o dia em que velhos choram de
alegria e as crianças, tantas, como este pequeno miúdo decidido, acreditam
ainda ser um dia cristalino e límpido.
Chama-se Óscar, esse menino, mas podia ser
Paulo, ou António, ou todos os nomes dos meninos deste país.
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