Rasga, ouvir uma música sacra e não ter fé.
Ela a puxar os limites e nós, apalermados mas boas pessoas, querendo
ir sem poder ir, ainda que indo.
A música desarma os argumentos.
Se fosse palavra – a música palavra -, encostavam-se
interesses comuns, acordos temporários para derrubar o facto de se ficar
desarmado por uma música religiosa não tendo fé.
Ginásticas para se dar
a volta.
A música não vai em conversas de embalar, é música, dona
garantida de todas as harmonias, mesmo as dissonantes.
Rigorosa e inflexível, na maior das flexibilidades que se
conhecem, vem do mundo das coisas etéreas, e não sendo daqui, tem as regras próprias. Pode ser desavergonhada e religiosa sendo um problema seu, não
humano, livre de noções pecaminosas mesmo que até seja enxofrada.
A música, leva-nos para onde quer levar que é lado nenhum mas
um preenchimento de todos, uma fruição, só isso, tudo isso.
Faz-nos gato-sapato, e mesmo revelando-nos ao mundo como agnósticos
sem nenhuma convicção credível do que se está a dizer, que no final o que se queria
mesmo era poder dizer-se que se acredita, mas não, falta algo.
A música religiosa
fissura-nos o corpo de bela, pungente. Leva-nos sem pedir licença para as alturas, só com a sua vontade, que nós não
temos asas para isso, e a gravidade a puxar-nos constantemente para a insignificância.
Que não queremos ser, queríamos ser deuses , e é por essa
vontade, que relatadas vezes – poucos é
certo – mas alguns de nós, fazem magníficos voos acrobáticos rasantes, mesmo ausentes dos movimentos voluntários dos acrescentos mecânicos que nos poderiam impulsionar para o céu.
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