Escrever é como percorrer pacientemente - ou não - um espectro como as ondas da radio, procurando uma sintonia.
É uma tarefa quase sempre
absurda, cansativa, mal sucedida, quando parece ser tão fácil juntar umas quantas
palavras bem intencionadas, a fazer sentido.
Mas não é isso que se procura, fazer sentido.
Vai-se atrás de mais, que não se sabe. Algo que seja suficiente
mesmo que só suficiente, à justa, para preencher temporariamente todos os poros e espaços em branco.
Depois, quando esporadicamente sai e flui, é-se oferecido de
um espasmo inqualificável de prazer, que vai muito para além de um simples
excelente momento de prazer.
É outro algo, etéreo, mas físico; volátil, mas que envolve.
Sente-se a pressão desse enlaço.
Enfim, escrever não é nada fácil, mas é uma coisa não coisa que
alguns poucos fazem tão bem; que alguns desejam suspirando tanto; que é fútil mas
que tem uma utilidade: eleva a condição humana.
A partir do momento em que esse homem com condição, consegue
desligar a ponta dos dedos dos pés do chão que o sustém, nunca mais ninguém o
apanha, ganhou num instante histórico, as artes do voo livre.
Fez-se artista.
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