Podendo a vista ser desimpedida, fazem muros
para a tapar, aprisionar os seus horizontes a uma parede, a delimitar um
território, tenha a extensão que tiver.
Constroem-se muitos muros, cada vez mais altos.
De betão, de ferros, de pedras sobrepostas.
Estando a vista aprisionada, macambuzia,
definha, desiste.
Quem faz os muros finge que não sabe, mas não os faz para se defender do que fica fora deles, fá-lo para se defender de si
próprio. Se pudesse ver-se, quando se olha ao espelho, cairia em si, de
vergonha e perceberia de uma vez por todas que os muros são desnecessários e
infelizes.
Todavia, nem todos os muros são inúteis.
Homens com esperança, milhares deles,
puseram-se a construir um muro feito de árvores. São acácias, árvores fortes,
de crescimento rápido, que aguentam as inclemências do tempo e de poucas águas.
Esse muro, quando estiver terminado, e falta
pouco, terá mais de sete mil quilómetros de comprimento. Imagine-se, um muro
assim, o maior de todos alguma vez construído pelos homens. Vai de Dakar na
costa Atlântica, até Djibuti, no oceano Índico.
Úm muro feito de árvores para deter o avanço do
deserto saariano, as areias inférteis que invadem tudo, impondo um manto
tumular, anulando a vida.
Quando se puder admirar o muro das árvores
acácias, os olhos quando o virem não estarão impedidos de imaginação.
Será uma grande obra, talvez dos monumentos
vivos mais imponentes e simbólicos.
As árvores, quando as entendemos e partilhamos,
ficam felizes, e só não fazem os impossíveis, se não puderem. São seres de uma
sabedoria tranquila e agradecida.
Este muro, até faz soltar uma lágrima, alguma
poeira nómada e viajante.
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