O
Homem que fuma desistidamente veste um pijama com uma cor esbatida, que já foi
cor, perdeu o brilho, algodão muito usado. E tudo nele, a esta distância do que
se pode ver, coincide no mesmo tom pálido de ausência de cor vivaz.
O homem
olha da sua janela aberta para a rua vazia e dá a sensação na falta de
movimentos que denotem nele alguma energia vital, que foi posto nesta posição,
a arejar, como se faz todos os dias de manhã quando nos levantamos e abrimos as
janelas de casa e espanamos as almofadas da sala e as mantas do sofá.
Está
ali até que se acabe o cigarro, mal o leva à boca, consome-se lentamente em
volutas de fumos verticais, praticamente esquecido nas mãos descaídas deste
velho.
Não
sabemos se vem muitas vezes â janela cumprir esse hábito da observação do nada.
Neste caso a distância da janela de sua casa, um terceiro andar e a rua onde
passam menos eléctricos e pessoas poucas, é agora o seu abismo. E a tentação de
mergulhar existe, está na sua cabeça como uma possibilidade. No entanto, ainda
não o fez, mas não é por ter esperança.
Algo
o prende, uma força magnética forte. Essa força são os seus filhos e os netos
que o visitam uma vez por semana e que da rua, onde estão, macaqueiam alegrias
e risos para se animarem todos e esquecerem momentaneamente a separação de uns
e outros, que um dia vai terminar.
Nesse
dia, que venha já, o homem poderá despir o pijama cinzento, arranjar-se a
preceito, descer as escadas que o separam da liberdade e dar beijos.
É
do que mais sente falta: dar beijos e bons.
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