A história podia começar por o hábito fazer o monge, não se sabe
ser faz, mas se os ditados existem, têm razões suas de serem ditados. Há por aí
muito dizer que é pífio, mas os ditados, quase sempre na forma mais popular de
se falar uma língua, revelam sabedorias e fornecem conselhos sobre os andares e
os vagares do quotidiano. São para as pessoas, o que alguns sinais de trânsito
são para as pessoas que conduzem os carros, sinais de aviso, de informação
útil, guias para a bem-aventurança.
Alguém que alguma vez se tenha lembrado disso e tomado como
missão sua, nesta caminhada sinuosa de penas e poucas alegrias que nos leva à
força ao buraco negro da eternidade, também conhecida por vazio – e seguir os
preceitos todos de todos os ditados – talvez chegue, no final, ao bordo do
precipício, mais purificado, o maior
dos inocentes, os meninos, que são todos, ao nascer.
A decoração exterior da pele pode ser honesta ou um bom sinal do
que não se revela, escondido no remanso interior, no que está no sub-cutâneo, sem
arejar a não querer revelar ao mundo a sua natureza verdadeira. E a decoração,
também engana, posta a propósito para o equívoco, ou a encaminhar as
apreciações para o mal-entendido, a levar para fora de pé, de controlo, ao embuste.
“Pela boca morre o peixe”. A aparência é licenciada em
patranhas.
As cores e os seus adeptos, não elas; de umas e não de outras,
eles; já causaram mais desavenças do que a contagem diária - cada vez menos
porque apressados ou com um romantismo diferente – de amantes a abraçarem-se
apaixonadamente sob o espectro de um arco-íris num céu fresco e cristalino
acabado de chover. Esses não causam desavenças, estrumam a terra da
fertilização do amor, bem escasso.
Mas os amantes contemporâneos banalizaram o arco-íris, preferem
enviar os beijos que dão, imediatamente, ao mundo inteiro, o seu mundo inteiro,
fotografando-os e esperando, nada mais que isso, a aprovação ou indiferença dos
outros, igualmente ocupados a fazerem o mesmo: enviarem as suas fotografias de
beijos, com ou sem arco-íris.
Qual é a mais bela cor de todas? O adepto sabe responder: a sua
cor.
O equipamento é completo e depende da ocasião a que se destina
(lá está). Neste caso, dólmen, cotoveleiras, luvas, joelheiras, caneleiras,
tudo em Kevlar, um material
resistente às balas e leve como penas de ganso. Uma grande invenção, o kevlar.
O bastão, longo, flexível, feito a si, de serem íntimos há
muito, à mão que o agarra, ao braço que o impulsiona; o capacete – claro - com
viseira de protecção à prova do impacto das pedras e que não risca para se
poder ver, distinguir os maus. No ver o alvo certo, está parte do sucesso do
mundo.
A separar dois mil anos, os escudos dos polícias contemporâneos
são idênticos aos dos romanos, e continuam a usar a mesma estratégia de defesa
deles: quando acossados por um bombardeamento de objectos e cocktails molotov, fazem com os escudos
uma construção, como se fosse uma casa e deixam-se ficar quietos, lá dentro até
que passe a tempestade, a fingirem-se desapercebidos, que não é nada com eles. Como
são polícias e nervosos, não aguentam e acabam por passar ao ataque.
Armamento: teaser,
pistola, shotgun com balas de
borracha.
Algemas, agora de plástico, muito mais fácil, simples, rápido e
com o mesmo efeito: decidir quando são colocadas, o momento que passa a
distinguir a liberdade (ou a sua suposição enganosa) da falta dela, merecida ou
imerecidamente. É agora muito mais prático com as de plástico, rápidas de
colocar e não pesam na cintura dos polícias que já de si têm que transportar
tantos objectos úteis.
Está tudo mais do que treinado, todos os procedimentos foram
decorados, treinos e treinos, ao pormenor.
Os opositores conhecem-se mutuamente, são sempre os mesmos.
Podiam até ser amigos, privarem publica ou intimamente. Mas não, estão
separados pelas cores, e os que fazem essa barreira para protegerem ambos de um
contacto violento, têm igualmente as suas cores preferidas, e nesses momentos
de trabalho, a alguns, não poucos, custa-lhes tanto desempenharem esse papel de
muros de contenção, de municiadores de castigos, de privadores de liberdade e
terem de carregar sobre compinchas seus, da mesma cor.
O almoço é frugal, corre-se muito nestas situações, não convém
estar enfartado. À noite quando voltarem, terão a recompensa. Os bem
comportados têm direito a boas recompensas. A melhor refeição da semana,
pode-se repetir, o único dia em que é permitido tomar um copo de vinho, e há
sobremesa com sabor a sobremesa.
Na cidade a essa hora quase vazia de gente nas ruas e nos seus
impasses, todos recolhidos no quentinho do prazer melancólico das últimas horas
de descanso, antes de iniciarem mais uma volta no estonteante e vertiginoso
poço da vida e da morte: uma nova semana.
São poucos, só os adeptos e os polícias que os vigiam, e aproximam-se
do estádio. Cânticos incompreensíveis, rimas a insultar os que gostam da cor
diferente da sua, gestos indelicados com sinaléticas a mandar todos para o dito
objecto fálico, empurrões, very-lights,
sabe-se lá para quê, de bonito não têm nada e o fumo deixa todos a tossirem
como tísicos.
Escoltados como animais. As entradas do estádio parecem os
currais de abate das bestas, nos matadouros. Filas de baias metálicas a
acabarem numa apalpação intensa dos corpos.
Belo espectáculo.
Jogam os dois rivais da cidade. Um clássico. Porquê chamar a isso
clássico, será porque se repete muitas vezes, e os comentadores desportivos que
não têm formigueiros filosóficos, mas andam convencidos que sim, gostam de
falar bem, para impressionar.
Apresentam-se nas televisões com os mesmos fatos repetidos todos
os dias, porque se apresentam todos os dias em horário nobre nas televisões e
ninguém os patrocina, dizem eles. Para além dos mesmos fatos, apresentam as
golas a querem sair da badana do casaco e as camisas descamisadas a ensinarem
peitos que já tiveram músculos tensos e delineados; os lenços são os mesmos,
colocados em simetria com a banda do bolso de peito lateral dos casacos, a
mostrarem-se pouco, uma risca, branca, nada mais do que isso. É moda.
É por serem assim, no falar e no vestir, que chamam “clássico” a
esse jogo, o encontro dos rivais. O Hábito tem dias que faz o monge.
Quando vem alguma equipa de fora, complica-se a logística. Os
autocarros têm que parar num local amplo mas controlável e fazer-se um cordão
de segurança para os encaminhar, a pé, para as entradas do estádio. Basta um,
cá atrás tropeçar, bêbado ou drogado, ou distraído, simplesmente parvo e que
tropeça, que empurre dois tão parvos como ele que estão à frente, e gera-se uma
confusão desgraçada. Aquela coisa do efeito dominó.
Se houver pontes pedonais ou túneis e estiverem adeptos
contrários a mandar moedas de dez cêntimos ou até mesmo bolas de golfe, instala-se
a desordem. Se começam a bater logo aí, é muito cansativo, porque vai ser bater
até que eles estejam de novo nas camionetas a caminho de casa. No dia seguinte
ficam derreados, doem os músculos todos, de tanto movimento feito nos bastões.
É uma profissão desgraçada.
A sua função fala mais alto que o clubismo, mas há alguns camaradas,
não se vai estar agora a ditar nomes, que batem mais levemente nos da sua cor. Não
se discute, compreende-se.
Desconhece-se a existência de um agente da autoridade que não
goste de umas vergastadas, e é para isso que se querem. A saberem bater nos sítios
certos, imporem respeito, senão era a república das bananas, mas não, é serviço
público.
Do adepto e do seu amor, esta história, um amor de fidelidade
extrema, que não conhece outro, da primeira à última inspiração-expiração da
vida. E por ser tão bonito e puro assim, para quê contar desgraças. Recomece-se
a história, com o mais belo e emocionante momento de amor: o nascimento de uma
criança.
«Finalmente o gajo nasceu, levou tempo, fui ver a mãe. De fugida,
não me dou bem com o ambiente dos hospitais, fico enjoado, não sei se é do
cheiro dos desinfectantes, o que seja. Estonteio, deixo de ver as coisas e as
direcções certas, parece que começo a rodopiar a cem à hora às voltas sobre mim
mesmo, tão tonto, que se não me agarro ao que está à mão, se não me sento ou
encosto, caio redondo no chão. E depois, também, não sei, mas os hospitais
põem-me triste, com vontade de chorar. Onde já se viu eu alguma vez chorar!
Não é parecido com ninguém, é feio, mas ela já vinha com uma
conversa de que sai ao avô materno, com a boca deste, os olhos desta, a orelha
daquele, e despachei a visita, que não estava ali a fazer nada e havia um
engarrafamento de familiares à porta à espera da senha para entrarem com
prendas de merda, amaricadas, pompons, pimpins, e essas conversas. Apareceu
malta que eu nem conhecia. Nestas ocasiões é como os casamentos, aparece gente
só para mamar à conta. Não sei para quê, ali não ia haver nenhuma festa.
Nem
devem ser da família! Alguns nunca vi, primos
afastados, designação onde cabem
todos os familiares longínquos e os conhecidos menos próximos, incluindo
vizinhos que gostam de se meter na vida dos outros, para depois irem dizer mal
para a vendedora do peixe, ou a das verduras.
Despachei a coisa, uma festa de fugida na testa da mãe (está
gorda que nem um texugo, inchada, ainda mais feia do que já era), esbocei um
beijo na criança, minúscula, também feia, está dito, e fui directo à secretaria,
do clube pois então, tratar do cartão de sócio. Isso é que é importante, antes
do jantar de comemoração na cervejaria da Almirante Reis, com a malta do
coração, os meus, os verdadeiros, os únicos, irmãos da irmandade da cor, a
melhor de todas, não venham com conversas.
Adeptos como eu, da maior, da mais grandiosa, irradiante,
ofuscante, das cores que existem, a nossa cor do coração, melhor não há.
Se fosse rapariga era pior, mas inscrevia-a na mesma. Hoje em
dia as mulheres já vão aos estadios, até já percebem do assunto e não se
ensaiam nada de deitar umas bojardas pela boca fora. Nisso estão como nós.
Igualdade.
Camarões e bejecas e
haja quem pague, dívidas não são dívidas, para que serve o cartão de crédito, a
prestações. Para o polir a passar na máquina, pois concerteza! Desconta-se a
bochechos.
Vamos comemorar a vinda ao mundo de mais um apoiante do
fervoroso. É um amor para toda a vida, o do fervoroso.
Não há nenhum mais forte do que este, só o da nossa querida
mãezinha ocupa ainda mais espaço no coração. É para a vida e para a morte,
damos tudo e apoiamos nos bons e nos maus momentos. É como um casamento mas
melhor, não tem divórcios.
Conhecem alguém, alguma coisa, que não se tenha pelo menos uma
vez separado? Pois aqui isso nunca aconteceu. Não há um único adepto seja de
que cor for, mesmo das que são um vómito, que mude para outra. Se tiver no seu
perfeito juízo claro. Se for maluco, está despirolitado
e não há nada a fazer. São esses os perigosos. É doença, não conta.
O nosso clube é a única gaja não gaja que nunca se atraiçoa. É o
amor mais fiel que existe, qual cães qual carapuça.
Já está! Mais um sócio do glorioso, esplendoroso, luminoso,
triunfante, mesmo quando perde. Agora vou comprar a camisola – deve haver para o
tamanho dele. Há para todos os tamanhos - e mal se ponha a andar, vai comigo ao
estádio e vai fazer a procissão a pé com a malta, para se começar a ambientar.
Ali, a mandar os bófias para a pata que os regurgitou, para não dizer puta, que
os pôs, que é para isso que eles estão ali, para os mandarmos de volta ao útero
das devassas das suas mães, filhos da pata, lá porque têm bastões, julgam-se no
direito de arrear a torto e, agora como se remata isto? A insistir demasiado no
lugar-comum, o caminho mais fácil, que seja então direito.
É uma festa. Há jogos inteiros que nem os vejo, não importa,
importa é ganhar. Passo a maior parte do tempo virado para a malta, a
animá-los, a puxar por eles. Temos cânticos e tudo. Ou então a provocar as
claques inimigas, filhos de uma grandessíssima.
E as bandeiras? E os cartazes? Lindo de se ver. Trazem a lágrima
ao olho. Já se percebeu que sou um banano de um sentimental.
Não preciso de ver, eles jogam sempre bem, e se não ganham é
porque fomos roubados. Os nossos jogadores são sempre os maiores, os melhores.
Jogam sempre bem e se perdem mal é porque os cabrões das equipas de arbitragem
estão feitos com os outros. Escumalha. Se pudesse arrancava-lhes as órbitras. Esta
malta da arbitragem ainda é pior do que a bófia.
Fazemos os cartazes e as faixas durante a semana, para ocupar o
tempo – não há trabalho decente, só nas obras. É bom para os emigras, os
pretos, que o façam eles, não merecemos isto, um país sem oportunidades –, grandes
cartazes com frases para incentivar a equipa, ou então para mandar o inimigo para
aquelas partes que já se sabe. As vezes lá passa um erro numa palavra ou outra
– é da maconha - mas o que interessa é a mensagem. A malta percebe.
A minha mulher também gosta de futebol, mas não a trago. Não sou
de facilitar. É por ter havido todas essas mariquices das facilidades, de
sermos iguais, que deu no que deu. Fica em casa que está muito bem.
O mundo baralhou-se, virou do avesso. Cada um no seu lugar.
Assim deve ser, assim vive-se em paz. Igualdade, pois.
Mas esta conversa não interessa, o que interessa é a cor da
minha camisola, que nunca trocarei por nada deste mundo, sou-lhe fiel até à
morte.
Se isto não é amor, que nome é que o amor tem?»
...
«Amaldiçoado o dia. Como me deixei levar na cantilena? A rondar
a minha saia como um menino do coro. Um anjinho, com asas e tudo. As nossas
mães eram – e são – amigas. A culpa também é delas. Quando eramos miúdos vinha
sempre com uma camisolinha do clube. Queria ser jogador. Quem não quer ter um
namorado jogador? Animei-me. Fui com ele assistir, mas tinha mais jeito para a
sarrafada do que para alinhar numa direcção concisa e correcta o esférico no
sentido de penetrar dentro das redes. O seu futuro ficou-se logo pela intenção.
Considerou que tinha muito mais jeito para a apreciação continuada do lúpulo e
do malte de cevada e dedicou-se a eles a tempo inteiro. Nisso é um profissional,
mas neste país ninguém reconhece os méritos.
Quando me tinha engatada, já só servia para o servir a ele e aos
amigos, as litrosas de cerveja com
que se encharcavam antes de irem assistir aos jogos. Iam de tal maneira que
deviam ver o jogo a dez dimensões. O polícia também lá andava. Eram amigos.
Tudo da mesma laia. Choram que nem crianças, não veem mais nada, vivem para a
camisola.
Pôs-me no estado que acabo de parir, veio cá ver o miúdo, de
fugida, a medo, e que tinha de sair para o inscrever.
Gosta mais do clube do que da mãe dele, de mim e da filha, todas
juntas e por atacado.
A vida dele resume-se a isso: ler os desportivos todos os dias,
mamar, à noite todos os programas – não deixa ver ninguém ver mais nada, tenho
que andar a gravar novelas para ver no dia seguinte - e mandar bojardas aos
comentadores, parece ele que está do lado de lá, do ecrã. Consome os dias da
semana a pintar faixas idiotas. As quotas estão sempre em dia mas não dá nenhum
para casa, tenho que pedir fiado.
E tudo acaba ao domingo, mal ou bem, para mim está visto. Quando
aparece em casa, só lhe conheço dois estados: eufórico ou enjoadinho, duma
forma ou outra quem leva sou eu. Ou então, não é raro, aparecer à
segunda-feira, todo pisado, da porrada valente que levou na esquadra, vá-se
saber porquê.
E diz que o clube é tudo, o atrasado. Mais do que arrependida,
se soubesse tinha estudado, fui na conversa e agora levo porrada.
Tem parecenças ao pai, a mesma boca. Olha, parece que está a
sorrir. O meu Jonas é lindo. Vai ser jogador, ganhar para os pais, deus o
abençoe.»
….
«Hoje temos que acompanhar a equipa visitante, azar dos azares,
a minha equipa. Sou amigo de alguns deles, mas se tiver que impor a ordem
usando o bastão a gosto, não me ensaio, executo. Não é uma missão que me
agrade: acompanhar adeptos desde que saem dos autocarros até entrarem no
estádio. Prefiro manifestações, das que dão para o torto, não temos muitas. A
gente anda toda a dormir em pé, é frouxa, aceita, é incapaz de dar uma bofetada
e acertar. Nem tem gosto nisso, prefere dizer mal no balcão do café e ter
inveja do carro comprado em quarta mão do vizinho do segundo direito.
Tirando essas atrações, que são raras, é a rotina de sempre:
guardar embaixadas, andar um dia inteiro nos corredores do aeroporto a olhar
para as cámones podres de boas, fazer
perímetros de segurança para que não cuspam na cara dos políticos. Alguns
mereciam, mas como já disse, esta malta nem para isso serve. Os que cospem são
sempre os mesmos, os gajos dos sindicatos. E mesmo assim também os conhecemos
todos. Vivem disso, vendedores de sonhos falsificados aos crédulos que pagam quotas,
e quando toca à falência deixam-nos a falar sozinhos, vão para outras
manifestações.
Custa fazer este serviço quando estou do lado da claque
visitante, mas é a minha profissão e tenho que fazer um esforço. Se pudesse
mesmo, onde estava era a arreganhar os dentes à escumalha dos apoiantes desse
clube de... que nem tenho palavras.
Mas o amor ao emblema é isto: fazer sacríficos, aguentar,
sangue-frio. As grandes vitórias são muitas vezes as maiores derrotas, que
fazem crescer mais e mais, o fermento do
amor»
Do adepto, é um amor incondicional porque coloca os seus
seguidores numa posição difícil, atados dos movimentos, espartilhados em si,
sem fugas nem libertações. É comparável aos enredos das tradições: «eu não sou
nada, senão o fio continuador». Prossigo e imito, não discuto, questiono, transporto
o andor da família, com uma dor imensa, para honrar a memória dos ascendentes
directos que já foram assim. E o maior dever que me exige a dignidade, é honrar
sem custos até ao último dos custos, a memória dos meus, replicando em mim e
nos que me sucederem, o exemplo recebido. Só pretendo ser uma cópia, o mais
fiel executor dos comportamentos da gente do meu sangue. Um perpetuador.»
É pois, um amor do antigamente, o do adepto.
Pode ser tão forte que leve a todos os excessos, ou ao mais
amplificado dos vexames, de figuras tristíssimas. É, no cardápio dos amores, dos
poucos que nunca falham, não se extingue numa última chama exangue, sem
alimento, sem oxigénio. É imaterial está sempre presente, em qualquer parte
para onde se vá. É algo que se alimenta e vive dentro do corpo, e nesse
aspecto, pode ser talvez um dos mais genuínos
Do poder, do narciso, do adepto, três amores da mesma categoria.
Sem um objecto, o ser amado, com contornos fotografáveis. Não existe em figura,
existe em imaginação, ou no coração, e por isso bate fortemente até ao último
bater.
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