Considerei ficar em silêncio. O que tenho para dizer? Tomei
essa decisão no meu íntimo, uma audiência a dois. Eu e eu. Sem contaminações
externas. O meu silêncio. Era o que desejava. Apesar de ser fundamental, e ter
uma opinião formada sobre o assunto, que considerei desde logo fracturante,
pensei ser inútil manifestá-la publicamente. Um desperdício de oportunidade. Não
para mim. Podia até ser incómodo. Dizemos uma vez e logo nos atribuem uma cor.
Uma bandeira. Um lado da barricada. Não é isso que quero: escolher o lado do
passeio que mais me agrada. Posso gostar dos dois lados e ter uma vida inteira
feliz com essa escolha ambígua, ou vista à luz de outro ângulo, uma decisão
sensata. Ninguém me pode apontar um defeito se eu passear com prazer por cada
um desses lados, alternadamente, de uma forma descontraída.
Fico em silêncio também por respeito, aos mais velhos e aos
mais novos, a todos. É bom gozarmos dos bens tangíveis e intangíveis, úteis e
fúteis, que temos à mão e perorar grandes panegíricos á sacrossanta ecologia,
ao ambiente, aos anúncios de catástrofe eminente e irreversível. Ao mesmo tempo
e não abrindo mão, continuar a conduzir grandes máquinas, cheias de cavalos, em
sentido figurado, a potência deles somados juntos quantos mais sejam, é sexual.
Poluição sonora? Ambiental? O que é isso? Efeminados invejosos. Se conseguissem
ter sucesso, faziam o mesmo.
E que mal tem comer uma bela de uma costeleta. Que mal vem
ao mundo pelo Co2 a mais ou menos, da vaca que acabamos de petiscar? O metano e
quantidade dos gases que expele, o que altera na ordem das coisas? A não ser o
cheiro? Não será por aí. Até é mesmo muito provável que isto da urgência do
clima seja uma grandessíssima fake. Quem
nos garante? Pode-se alguma vez, como as coisas andam, acreditar em alguém?
Ao mesmo tempo, pode
ser que seja verdade. Então, claro, estamos na linha da frente. A contestar,
nas manifestações, com cartazes. Com sorte aparecemos na televisão. No mínimo
não perdemos uma oportunidade num encontro de amigos de descerrar-lhes à
queima-roupa, entre o conduto e a vinda esperançosa de uma boa sobremesa, cheia
de açucares, com uma retórica fundamentalista sobre o mundo de consumo
desenfreado. Ultimamente, temos ido menos a esses encontros. Não nos telefonam
a avisar. Talvez tenham deixado de organizar jantares aos fins-de-semana. É
verdade, agora que se fala nisso, já há bastante tempo que não nos dizem nada. Nem
mesmo para festas de anos dos miúdos.
Aconteça o que acontecer, nós e por nós, não temos nada a
ver com esses assuntos. Não somos os culpados, fazemos o que os outros fazem. Já
ouvimos inclusivamente dizer que mudar é esforço em vão. Não vale a pena mudar.
Uma única pessoa, não tem efeito nenhum. É continuar a usufruir. Só cá vimos
uma vez, se antes, os que vieram antes, gozaram o que lhes deu na vinheta,
porque temos nós de apertar o cinto? Quem vier a seguir que feche a porta. É
mesmo assim.
Mas pelo sim pelo não, somos pela natureza. Biológicos. Amanhã
vou começar a mudar.
Upss! Apercebi-me agora, que não queria, mas não fiquei em
silêncio. Tudo o que disse é um suponhamos. Pode ser que sim ou que não. Sendo o
que vier a ser, eu tinha razão: aconteceu o que já se esperava.
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