As palavras ficam pálidas se não as pintamos com cores, disse-me alguém um dia e sabia o que dizia. Foi meu professor de instrução primária e era um homem sábio e humilde, que colecionava selos e sabia o nome de todos os alunos. Todos temos palavras preferidas, as que mais usamos, especialmente em ocasiões festivas. Mas no dia a dia algumas são tão repetidas que se tornam caricatas. Há mesmo quem passe a vida a repetir, uma cacofonia, as mesmas palavras rebuscadas e deslustrosas. É uma ideia sensata que as assentemos num caderno, não venham a ser esquecidas, se um dia fecharmos os lábios secos à construção dos sons ou se avariar a máquina de teclar pensamentos. Os forasteiros, caso venham a encontrar nos nossos despojos esse caderno, ficam a conhecer as palavras que nos preencheram, as peças que utilizámos para montar os sonhos e as ilusões, em castelos de papel manteiga, e que tantas vezes nas nossas vidas, desmoronaram com os vendavais dos nossos suspiros em dias de nostalgia...