O meu avô, apesar de respeitar a natureza, os animais, as plantas e a harmonia de todos, era caçador. Era um homem do campo e por isso era caçador. Veio e completou-se homem na cidade, mas o chamamento, quando se manifesta é mais forte do que a sua negação. Como não podia ter uma horta dentro de uma casa exígua, passou a ser caçador aos fim-de-semana. Os caçadores têm um cão, ou mais do que um, até têm furões, parece que ilegalmente. Ele tinha um cão, amarrado na varanda do apartamento e só ganhava a sua liberdade de cão aos domingos quando ia caçar com o meu avô. Rapava o tacho do tempo, e corria, corria desalmadamente, como se fosse a sua derradeira corrida e havendo que aproveitar essa sensação de leveza e poder, corria até mais não. Umas vezes acertava na direcção onde tinham caído as peças abatidas pelo meu avô, outras ia em sentido contrário, pouco lhe importava, e o meu avô, de um cão preso numa varanda toda a semana, não podia esperar mais, nisso era complacente. Nunca lhe ouvi...