Badameco
(latim vade mecum, vai comigo) Pasta
com papéis ou livros que os miúdos levam para a escola. Rapazola. Homem sem
importância
É uma rica palavra, tem vários significados, pode usar-se com propriedade e riqueza em textos densos, com várias camadas de compreensão e que exigem leitores profissionais devidamente munidos das ferramentas exigidas para fazer essas descodificações. No entanto, quem a ouve dá pouco por ela. Não vamos falar da sua utilidade como pasta para transportar papéis ou livros, nem de uma pessoa presunçosa. Badameco é mais do que um artolas: é um artolas malandraço, com manhas,de fracas rés, bílis ácida. Um fedelho. O badameco não é boa companhia, e apesar de haver badamecos finos, encontram-se mais em subúrbios, onde vivem de pequenos expedientes, chico-espertos.Ser badameco é uma situação crónica, sem evolução positiva nem cura. Nasce-se e morre-se badameco. É uma palavra literária comum e há inúmeros e bons exemplos de personagens badamecos na história universal da literatura. Os russos fartaram-se de encher páginas com badamecos, nos seus romances sombrios a escorrerem tristezas e desfechos trágicos; os autores latino-americanos carregaram as páginas dos seus romances de personagens badamecos; e até na literatura europeia eles aparecem, alguns a quererem estragar a festa, outros como exemplo para os heróis se desenvincilharem deles e seguirem em frente com as suas vidas. Na actualidade não se chamam badamecos aos badamecos. É mais um “temte não caias”. O que é pena, porque esta palavra podia ainda fazer sucesso e casa cheia na linguagem corrente, simplesmente porque soa bem e diz tudo sem precisar de mais acrescentos.
(texto extraído do Caderno das Palavras Belas, de Luis Robalo)

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