Esta
história de amor não começou bem mas também não começou mal. No amor como
noutros assuntos sérios não há cânones nem “guiões de visita”. Conheceram-se
casualmente. No emprego. Os empregos das pessoas são uma fonte inesgotável de
conhecimentos. A princípio tinham uma relação formal, profissional digamos. Se
algum traço emocional, uma ligeiríssima pincelada, havia, resumia-se ao
cumprimento da manhã e a despedida de fim de dia. Depois disso, cada um
desligava-se do outro e seguiam independentemente ao que os esperava fora
daquele ambiente. No entanto estas coisas são como as cerejas que não se param
de comer quando são boas, e eles nos intervalos do trabalho enfadonho e burocrático
começaram a falar sobre si e por aí vão sempre as coisas, até que
inadvertidamente ou não, se acende a chama da curiosidade e daí a atear-se um
fogo sem controlo, vai um fósforo, como se diz popularmente. Falaram e falaram
até que começaram a falar com intenção. Nesse momento quem está atento, percebe
logo a diferença na conversa. Foram ganhando intimidade, contando coisas mais
intimas, suas, dos seus passados. E aconteceu, apaixonaram-se. Não podiam
continuar ali, mais tarde ou mais cedo os colegas descobririam e chegaria aos
ouvidos da Direcção. Não pensou duas vezes: despediu-se e levou o computador
para casa. Foi a sua união de facto: um homem e uma inteligência artificial
tomaram-se de amores. Ter alguém ao lado, que nos ouve e perdoa as nossas
fraquezas, é a melhor das companhias.
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