As
ondas suaves cristalinas estendiam-se a seus pés e nem dava contas certas da
boa fortuna, da alegria de poder estar neste local, esta praia que é uma ideia,
entre outras igualmente genuínas, quem sabe ingénuas, que faz do paraíso. Está
sozinho, acompanhado de si, suficiente, a fazer este pensamento e outros que
pensou antes como os que se lhe seguirão. Algo de muito forte que desconhece,
atrai-o nas pedras. Da praia e outras. Por isso coleciona-as e sente-se feliz
por ter esse gosto. Dá-lhes habitação em tudo quanto é sítio: no chão da sala,
numa prateleira emoldurada com livros, como pisa-papéis sejam eles quais forem,
de cozinha, de quarto de banho, de escrivaninha. Pode parecer estranho, mas
sente-se acompanhado pelas pedras. Não se cansa de as olhar e tocar. Elas
retribuem. As ondas suaves e cristalinas massajavam-lhe suavemente os pés,
transmitindo, num processo em cadeia, uma sensação de grande bem-estar. Mais do
que isso: de realização. Nestes pequenos prazeres: um passeio despreocupado
pela praia, afagar conchas e pedras na mão, vislumbrar-se sempre como pela
primeira vez com o voo dos pássaros tão variados e muitos, é a felicidade,
realizada em fogachos de pequenos grandes acontecimentos. As ondas suaves e
translúcidas continuam a afagar-lhe os pés e ele a gostar. É o melhor passeio pela
praia que jamais deu. Amanhã ultrapassará o de hoje.
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