Um
prisioneiro com algemas invisíveis. Na casa que comprou, a pagá-la toda a vida,
um calvário. Agora, a casa a fazer-lhe uma destas. Asfixiava. Tinha a chave da
porta, podia sair, podia entrar. O que importa isso se tinha uma barreira
moral. Sim, moral. Não saia pelos outros e por si. Os outros também o deixaram
de visitar. Seria por eles e por si. Uma confusão e um dilema. Aquela casa que
nem sequer estava bem localizada, nem era particularmente confortável, que lhe
custou uma verdadeira fortuna, era melhor nem fazer as somas todas, emparedou-o
na fase da sua vida em que ele estava a sentir-se melhor no exercício muito
difícil de alimentar uma boa conversa. Anos investidos nisso, aprimorar e limar
arestas e agora que se sentia um tribuno, gostando de se ouvir, não tinha com
quem falar. Para as paredes que não lhe respondiam, ingratas, o que ele
investiu nelas. Tinha uma colecção antes feita de selos. Pôs-se a escrever
postais. Todos os dias depositava-os num marco do correio, em frente à porta da
rua de casa, no mesmo passeio e tudo. O risco era mínimo. Não recebeu resposta
de ninguém. As pessoas estavam entretidas em ver as notícias da televisão,
deixaram de ter tempo para coisas menores, nem sequer iam ver o correio. Um dia
descobriu a solução para quebrar o tédio: pintar graffiti nas paredes de casa.
Assim podia trazer a rua para dentro. Uma forma de sentir a liberdade.
**créditos VHILS
Comentários
Enviar um comentário