Era ainda noite parda.
Na insónia apanhei de ouvido, um, ou muitos pássaros.
Não sei se pequenos, se grandes, onde estavam, perto presumo, porque se ouviam bem.
Não havendo árvores por ali, eram pássaros pousadores nos beirais, dos livres e voadores.
Vinham de uma noitada, ou acabados de despertar na antecâmara do novo dia. Não sei.
Pararam temporariamente nos arredores da cabeceira da minha cama, separados pelo lá fora, eles, o cá dentro, eu.
Enleado nos lençóis. Livres e voadores, os pássaros. Presumido de livre mas preso à cama, eu.
Ali, aquela hora, pousados, criaram um lapso de tempo para fazer conversa.
Pareceu bastante tempo, mas à noite nunca se sabe porque está escuro.
Atento, curioso por entender o que estavam a dizer, concentrei-me nas modulações dos seus pios, e identifiquei diferenças.
Julguei até perceber que havia uns mais piadores e outros que só ouviam. Pode ter sido um devaneio, julgo que não.
Quase garanto neste dia que ainda não o era que houve uma conversa de pássaros num bordo de um prédio vizinho meu. Só não sei é se foi séria ou simplesmente libertina.
De que falam eles?
Apreciaria ser cumprimentado por um e responder e continuarmos assim, motivados.
Entrar com as mãos nos bolsos, dos que estão perfeitamente à vontade em qualquer conversa, eles nos beirais, eu no bordo da cama com a cabeça fora da janela, a conversarmos animadamente, pelos fiapos da noite.
Entretinha-me da insónia e falaria de importâncias com alguém, que a esta hora em casa estão em modo de dormir.
Intuo que seja uma língua rica e poética, a dos pássaros.
Amanhã ponho-me à escuta, e vou fazê-lo como um estudante aplicado. Raios se não escrevo um dicionário do passarolar, que me parece uma coisa importante para o mundo!
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