Um olhar carregado de ódio. Não é culpa nossa. A vida distribui
as suas partidas por cada um, acima de tudo devemos ser decentes com os outros.
Não temos culpa.
Na fragilidade com que se nasce, vir a ser forte é um desfecho
sublime. E muito bem pensado. Só se pode ser “forte” para ajudar os outros a
crescerem, enquanto nós também crescemos.
Ser forte porque se ganha o arbítrio
de pisar as “beatas”, é debilidade.
Ser irredutível nas ideias é debilidade.
Centrados sobre as nossas existências diferentes, quiçá
difíceis, perdemos a lucidez do real. Ou seja, só o vemos à distância das
nossas sombras. Escapa-nos a perspectiva. Às voltas e às noras com as obsessões,
vemos desfocado.
Amesquinhamo-nos.
As decisões que decretamos ao mundo envinagram-se.
Decisões dessas não são das boas, são chicotadas masoquistas.Nessa loucura chegamos mesmo ao ponto de deixar de ver, e ouvir,
temos as conversas dos outros por débeis e fracamente inteligentes, inebriados pelo
reisling do ódio.
Os nossos modelos são os melhores, as fórmulas as mais
elaboradas, os mandos únicos, irrefutáveis, superiores.
Na cadeira que o ancorou à terra e não permite a elevação, você manda
muito, e não é por essa posição estática - de uma luta pela sua libertação de que
desistiu sabe-se lá porquê – que se é assim. É porque a sua comiseração da alta/fraca
estima, o impede de ser franco, primeiro com o invólucro que o reveste, depois
com os outros que saltitam ao seu redor.
Obriga os outros a dobrarem-se quando o cumprimentam, porque
está baixinho, e olha-os vagamente raivoso, frustrado por não ter sido capaz de
inventar asas para se elevar.
No entanto, domina o mundo.
Na realidade não, para se dominar é necessária a existência de
alma, não basta andar na vertical.
A alma é o ingrediente que distingue o homem da Pessoa, e não é
um conceito transcendental, a menos que se considere transcendental a superação,
o acto de maior liberdade que alguma vez se pode congeminar.
Mas atenção senhor Wolfgang! Não se engane nas palavras!
Superação é uma sublimação espiritual, não cose com Poder!
Um dia se tiver algum tempo, olhe para nós e veja como, mesmo
baixinhos e ancorados por si, alguns de nós ainda estrebucham. E pode querer, é
a alma que nos distingue dos animais.
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