São deuses, e olham para os infernos com o enfado natural
dos deuses, porque não há seres superiores aos deuses que julguem as suas
criações imperfeitas.
E assim se peca sem castigo, cometendo todas as obscenidades
sem que os mortais reajam.
Ainda ontem açanhavam
os olhos aos seus pequeninos estendedores de tapetes - dizendo-lhes que já
estavam a relaxar nas reformas.
Estes tremelicando para conseguirem o “quadro de honra” logo foram pressurosos
ao balcão mais próximo de uma qualquer Goldman
Sachs, depositar por adiantado uma fatia do espúrio para pagamento de juros ( são os juros que
eles querem pagos a horas, que a divida
propriamente dita, nenhum país paga: é um conceito virtual).
Hoje, porque lhes
convêm para enviar os gregos para as trevas, ou pô-los obedientes e bem
adestrados e validarem as suas teorias da ditadura do dinheiro e dos interesses
próprios, voltamos a ser o exemplo.
E o ansioso que estamos por ser exemplo do retorno a níveis
de pobreza, desprotecção na educação, na saúde, abandono do apoio social,
diáspora forçada!
Na sua perversidade, os deuses convidaram uma estendedora de tapetes para uma
fotografia, para ilustrar que o caminho da fidelidade e da abnegação eleva os
homens.
Ela sorriu e sente-se quase demiurgo. Os seus colegas
estendedores de tapetes vermelhos, aplaudiram sentido-se abençoados pelos
deuses. Árduo o caminho para a santidade.
Entretanto, nos fundos dos infernos, os pecadores vêem as
notícias, ouvem e lêem, e continuam calados. Se calhar fingem que estão a utilizar essas capacidades sensoriais. Se
calhar, estão simplesmente embasbacados e esbugalhados de olhar no ecrã, a abrir e fechar a boca, involuntariamente,
como as carpas nos aquários. É possivel que seja isso. Os condenados não
entendem, por isso não reagem.
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