Agosto é o melhor mês do ano.
Gosto de todos, mas este, para mim, é o mais bonito dos nomes
com que baptizámos as fatias do tempo.
Agosto é o mês dos campos posto em sossego, da família que nos
visita, das festas em honra da nossa padroeira.
O Farrusco e eu andamos desvairados nos preparativos das festas
da aldeia. O Farrusco é cão, mas é o meu familiar mais próximo. Os outros estão
lá fora (porque raio se diz lá fora?), e é por essa razão que a comissão
organizadora das festas da minha aldeia só tem dois elementos.
Não há mais habitantes, e com os fantasmas não se conta, que
eles para mexerem um dedo, está quieto! Só estorvam.
É uma trabalheira doida, só uma pessoa e outra que é metade de
pessoa, mas a vontade é muita e somos profissionais nos festejos, sentimentais
portanto.
Este casario é mais um lugarejo acanhado do que uma aldeia, mas tem igreja e
escola, o que é fundamental para a sua dignidade de aldeia, apesar de não terem uso.
Como somos poucos, o farrusco e eu – mas precavidos - antes de
pôr mão na obra, discutimos longamente em sede de assembleia, a estratégia do
alindamento dos exteriores, o alinhamento das cerimónias religiosas e a
contratação dos artistas, tudo com tempo, haja a necessidade de rectificativos
de última hora, antes da chegada dos convidados.
Decidiu-se que no que respeita aos confetis para engalanar a rua principal, eu penduro-os e o farrusco
lambe a cola (tem andando com um olhar vago nos últimos dias, mas não deve ser
nada!)
Quanto às roupinhas da santa, está tudo controlado. Ela não é de
grandes exigências, pelo que vai com o manto rosa pálido das últimas vinte e
três procissões. Não estamos em tempos de esbanjamentos. Limpinha e honrada, o
povo aceita.
Como estamos parcos no orçamento, as despesas sempre maiores que
as receitas - soubesse eu escrever números num papel e dava a volta à coisa,
mas assim de cabeça é natural que falhe - este ano não temos banda para o
bailarico.
Não há problema: o António dos CTT ajeita-se na concertina e faz
o concerto de graça (nunca é de graça porque ele tem muitas securas e
desforra-se na aguardente).
Tenho por aí um bode velho, é um cabrão de um bode – deus me
perdoe – que está destinado às bifanas. Tivesse sido simpático que assistia aos
festejos, assim vai fazer parte dos festejos fatiado no pão.
E acho que está tudo tratado. Estamos prontos para receber as
nossas famílias.
Espero que venham a caminho.
O farrusco parece mais nervoso que eu (e ainda por cima com a língua colada no palato).
Tenho quatro foguetes guardados da última festa (vai para três anos),
que estavam cheios de verdete, humidades acumuladas na loja de estarem ao lado
das batatas. Pus ao sol ontem, pode ser que sequem.
Amanhã, quando os meus chegarem, vão ser recebidos a foguetório
com o meu assistente a uivar, raio do cão, se fosse aos concursos podia ter sido cantor!
Será que eles vêm?
Puta de vida esta, que os obrigou a partir!
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