Perde-se o ar de tanto, uma asfixia, a respiração suspensa, no excesso de oxigénio, o que parece contraditório. No cimo da serra o que está a acontecer é espanto, deslumbramento, uma paisagem inimitável, agreste. Como é a natureza, e como as pessoas ainda se admiram, todos os dias, com as suas novidades e truques de mágicas inesgotáveis, a embeiçar os homens. A serra é circunspecta, senhoril, não cede a amizades fáceis. É profundamente bela, e isso é o que faz perder o folego e perdoar um aparente mau feitio. Estar ali, em estado admirador, com uma visão panorâmica a varrer toda aquela lonjura, e o que se imagina de mais lonjura, tapada pelos recortes das serras e da linhas das terras, a abraçar quilómetros: um privilégio. Se deus não se tivesse reformado seria uma bênção, assim é laicamente uma alegria. Não é um equívoco: a paisagem é bela, mas não é o que se pode estar a imaginar da descrição feita. Não há cor, não há árvores...