O avental é uma peça de roupa que consiste num resguardo de tecido ou de pele, com ou sem peitilho, que se amarra à cintura e que serve para proteger a roupa enquanto se desempenham determinadas tarefas, domésticas ou profissionais.
O bibe é uma espécie de avental
com mangas para resguardar a roupa das crianças.
Desconheço o nome da peça de roupa
que não é um bibe mas que é um avental como se fosse um bibe, para adultos, que
muitas mulheres conterrâneas nossas, vestem a diário como peça de roupa
fundamental e exclusiva.
Poderá ser bata, o que resolve a
dúvida.
A minha avó Maria, era uma mulher
moderna. O que dá para muitos entendimentos. Era uma mulher desembaraçada,
solta, dada a empatia búdica com todas as ideias, modas e estilos.
Tão desprendida como se vestia e
desarranjava, que podia dar a ideia de alguma afectação, uma declaração de
princípios. Apresentação com o propósito de chocar, ou somente vincar, a sua
posição no mundo. Que era de absoluta neutralidade e compreensão de que tudo
não passa de uma grande farsa, a não ser levada como séria.
Podia até parecer apalhaçada – e à
sua maneira seria – mas isso era fazer uma avaliação leviana, de uma pessoa que
se calhar escondia na aparente simplicidade folclórica com que dava de caras
com o mundo, a subtileza de uma lucidez densa.
Estava muito à frente do tempo,
que nunca o tomou como sendo o seu, de tal maneira adiantada, que faleceu
precocemente, levada a póstuma por estar precisamente avançada nas contas do
tempo.
Pois a minha avó usava a tempo
inteiro e talvez até a dormir, um avental, desses tipo bibe, que pode ser a tal
da bata. É óbvio que tinha mais do que um, mas parecia que vestia sempre o
mesmo.
Não tenho outra memória que não a
veja abrilhantada com essa peça de vestuário. Em casa, na mercearia, no mercado
do peixe, à minha espera à porta da escola, em comemorações familiares e
festivas, em momentos de solenidade e luto.
Não consigo mesmo dissociar a
memória que tenho dela, desse atavio, geralmente profusamente florido, ou
então, em momentos mais contidos, num padrão quadriculado com cores várias.
Houve momentos em que me deixou
embaraçado, mas agora compreendo que o meu mal-estar era uma pequena traição
que lhe fazia. Ela era uma mulher interventiva, e vestir assim era ser assim, e
sê-lo era dizer ao mundo – mesmo pequeno como o dela – que a riqueza está na
diversidade de ideias e de estilos.
Agora, quando rememoro fotografias
do baú, acho-a linda mesmo de bibe-bata, e estou absolutamente convencido que
era uma atitude política propositada. Um enfase de classe.
A minha querida avó Maria.
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