Afinal o Tôto, o cão preto e caçador, companheiro do meu avô e que tinha esse nome por ser a zona onde o meu tio, seu filho, fez a guerra, num país em África, ou seja, não a fez, assistiu a ela porque teve a sorte de ser amanuense, não morreu, nem o cão nem ele.
O Tôto, que eu cavalguei a
mimetizar touradas no pátio na Afonso III, o pátio onde com quatro anos, me
enamorei pela primeira vez, pela menina do pátio ao lado, já não me lembro do
nome dela, mas enamorei-me tanto; o mesmo que veio ter comigo a casa, quando os
meus avós foram viver para Algés de Cima, e ele, certamente cheio de saudades
minhas, pôs-se ao meu caminho, e quando alguém se põe ao caminho de alguém,
mesmo desconhecedor e assustado por esse caminho, não é um acto único e
absolutamente magnífico? Ainda mais um cão a fazê-lo por nós?
É que afinal, o Tôto nunca
deixou de estar comigo e no intervalo de tempo em que estes episódios se
passaram e o dia de hoje, fui eu que andei distraído: neste mesmo momento o
Tôto a que eu chamo Senhor Darwin, acabou de caçar e aniquilar uma temível
mosca varejeira que ameaçou a tarde inteira a tranquilidade do nosso lar, meu e
o do senhor Darwin, e ele preocupadíssimo com a minha paz de espírito, a
defender a nossa paz, a dar-me espaço para poder escrever estas
insignificâncias, o meu mais fiel seguidor e parceiro intelectual, caçou-a
ferozmente, e, finalmente feliz e realizado, esparramou-se na cama, com a
consciência tranquila, de mais uma missão cumprida.
E não é que ele é igualzinho
ao Tôto, grande caçador e amante meu, o cão de caça do meu avô materno? E eu
nunca dei conta? Distraído a juntar palavras?
O Tôto é um cão eterno, como
todos os seres que um dia amámos e amamos, porque com esse amor nosso
tornamo-los sempre presentes
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