No
meu círculo de amigos todos sabem que sou companheiro de um cão – dividimos até
casa - que se chama Senhor Darwin, cão inteligentíssimo, mas quem não o apregoa
dos seus, sejam eles cães, gatos, coelhos e agora parece que estão de moda, os
furões? Dando a entender que a conversa era para ir no caminho do Senhor
Darwin, não, as nossas intimidades existenciais são e continuarão a ser só
nossas. De quem se quer falar é dos furões.
Fiquei de pequeno com a imagem, de ouvir histórias
dos caçadores, que os furões para além de animais muito combativos e ferozes
eram proibidos de usar nas tocas por obrigarem os coelhos a saírem e serem
apanhados, de uma forma muito pouco digna para o coelho, já que nem sequer lhe
dão a oportunidade de se por a correr que nem um doido e assim, talvez,
conseguir fintar a pontaria do caçador e muito menos serem apanhados pelos
cães, que com excepção dos galgos ficam com a língua de fora enquanto os
coelhos os rabeiam a seu belo prazer. De galgos não vale a pena falar, poucos
os têm, é só para gente de posses, já que são cães completamente inúteis,
burros que nem cães galgos, e que só mesmo os ricos, para terem dinheiro para
alimentarem bichos que nada mais servem senão para correr, feitos tansos atrás
de uma pele de coelho, aí está.
No
entanto alguns que caçavam regularmente com o meu avô, homens humildes do
campo, traziam-nos escondidos e arriscavam serem apanhados. É claro que o meu
avô que dizia gostar muito dos animais e da natureza, por isso era caçador e
dos bons, os criticava, e era ele mesmo que me contava histórias de furões e da
sua agressividade.
Como já não há caça, por alguma razão das dinâmicas dos mercados que não se vão saber nem muito menos encontrar lógica, os furões que deveriam estar em vias de extinção por inutilidade laboral, ou seja porque perderam a sua razão de ser, por falta de espécies cinegéticas, de repente, do nada, fazem a sua reaparição no palco das entidades vivas e são agora motivo de carinhos, palavrinhas mansas e têm até direito a alimentação cuidada, visita veterinária regular, e um tecto onde meninos meio apatetados lhes fazem caretas, enchem-nos de afecto, e não param de adjectivar elogios, lambidos de diminutivos para adocicar ainda mais, como eu com o meu amigo Darwin, esse sim, um animal e peras. E que merece, para além de fazer justa homenagem aquele inglês pragmático, que arrumou de vez com o mito da Criação teletransportada da mente diáfana do Senhor para os verdes prados virgens da terra. Pôs as coisas preto no branco, como precisamente o meu cão Darwin, quando que me dá a entender de uma forma muito assertiva e cheia de razão que a minha comida é muito mais saborosa que a dele, e se tanto insisto, que a coma eu, que ele fica com a minha. Pequenas coisas da vida caseira, claro está. Quando voltar a uma superfície de venda de produtos alimentares para animais, vou ver de que são feitas as rações para furões
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