Andavam
um melro e um pardal a fazerem pela vida num jardim público, saltitando daqui
para ali, executando pequenos voos aleatórios e muito rápidos, quando uma
criança, das que são irrequietas, começou a atirar-lhes pedras. pequenas é
certo, mas suficientes em tamanho e peso para fazerem, no caso de acertarem,
mossa. Não sendo, ainda bem, a pontaria o seu forte, esse acto considerado
agressivo por parte dos pássaros, assustou-os, sabendo-se que são seres por
natureza delicados e sensíveis. Quem assistiu a este episódio foi o senhor
Manuel que apesar de se estar a dirigir apressadamente, tanto quanto a compressão do nervo ciático lhe permitia, olhou com atenção, já estava atrasado para o local habitual - uma
mesa de jardim coberta de nomes e corações e coisas impróprias, riscados a
canivete – onde todas as tardes, chova ou faça sol, joga cartas com os mesmo parceiros,
a não ser que um deles misteriosamente, mas previsivelmente, desapareça sem
deixar rasto. O senhor Manuel é considerado unanimemente como um dos melhores
jogadores que frequenta este jardim. Talvez mesmo o melhor do bairro. Olhou mas
não fez nada e a criança assim continuou até que a mãe, sentada num banco a
tratar das suas coisas sempre com um ar muito ocupado, quase que a tratar mal o
telemóvel, se lembrou do filho e o retirou do cenário. O melro e o pardal
voltaram a debicar os pequenos grãos que nos jardins e parques públicos não
estão aos olhos de os vermos mas eles estão lá. Entretanto a criança foi fazer outras
tropelias, para casa, esgotou o seu tempo, a mãe tinha mais que fazer.
O
senhor Manuel ganhou uma vez mais - era expectável, os parceiros andam frustradíssimos, mas ele é mesmo bom - e foi para casa, ao fim do dia, todo inchado. Viu a novela com a mulher.
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