Acinzentou o dia, o que é logo suficiente e motivo para se
levar a melancolia à rua. E é vê-la, a passear, pela mão destes e de outros,
novos e velhos. Em dias assim paira um desalento, uma falta de vontade. O mundo
detém-se esperando que o sol irrompa no que tem de glorioso para nos dar.
Alguns não aguentam a espera e cometem desfechos irreversíveis, consigo mesmos.
Outros subtraem vidas alheias, Às vezes em actos de grande violência, que nunca
se poderá entender. Uns amuam como se fossem ainda crianças e não falam mais. Há
quem gaste tudo no jogo, ou na bebida, ou mesmo em todos os pares de sapatos
que pode comprar com todos os cartões que tem disponíveis e ainda lhe dão a
ilusão de invencibilidade. Os mais sensatos, que insistem nisso, esperam. Nada
mais. Quando finalmente aparece o sol e aquece, a melancolia corre a fugir,
para se esconder por baixo dos tapetes, em casa. E aí fica, quase esquecida,
até nova oportunidade. Todos em geral alegram, menos os que nunca foram capazes
de sorrir, e com tempo destes, mais aberto, renovam-se os votos no futuro. Folgam,
fogueteiam, executam danças excêntricas. Uma festa. Quando chega a noite e se
anuncia o final da festa, voltam à sisudez dos formalismos da vida, a fazerem-se
ainda mais adultos do que a obrigação de sê-lo. Uns, poucos, desalinhados por
convicção e certo orgulho pessoal nisso, prolongam a festa, até que chegue a
polícia dos costumes e os identifique, obrigados a voltar para casa, para
amanhã serem cidadãos perfeitos. Os que têm uma ideologia forte não se
conformam e prometem que amanha vão ser ainda mais exóticos, nas comemorações
da vida.
Comentários
Enviar um comentário