E então,
fez-se um dia, do nada, aparecido assim sem estar à espera, arrasadoramente
completo de todas as coisas necessárias a um dia bonito: luminoso, caloroso,
deixando ouvir as melodias das esferas. Tudo de fundamental está presente neste
dia.
As pedras
que se pensam sempre duras, amolecem pelo calor que emana do dia; as flores, as
plantas, seres solícitos e disponíveis para tudo, a simpatia, abrem-se
lascivamente de pétalas e folhas, absorvem o ambiente criado; os animais
selvagens e domesticados, fizeram uma pausa no seu quotidiano de sobrevivência e
perigos.; os homens, tiveram e não seria de esperar outra coisa, atitudes
dúbias: uns a apanhar sol tendo tomado a deliberada intenção de serem felizes;
outros, indiferentes, ou desconfiados, cometeram as maldades habituais em si.
Os deuses piquenicaram, tendo convidado os parentes, os anjos, os arcanjos, e
fizeram muito barulho, arrotaram bastante e acabaram por poluir as nuvens,
porque são seres superiores desligados desses assuntos.
Houve
atentados, terrorismos, violações, perfídias, e enquanto tudo isto estava a
acontecer, as abelhas polinizaram as flores, e casais irremediavelmente
apaixonados consideraram na sua visão irrealista e utópica própria de quem está
apaixonado, que o futuro era a felicidade.
Uns fizeram,
mesmo ali, filhos, outros poemas, que filhos são, alguns também, amizades, o
que dá mais trabalhos e pede resiliência.
E assim
passou esse dia, tão único e diferente, como o que se lhe seguiu, tendo-o
também sido o anterior.
* Pinturas de William Turner
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