Uma carta de separação é um
dilaceramento, um crepúsculo, uma febre alta com o corpo a arder, um doer
generalizado, dos músculos, das junções das peças todas do corpo, e as da alma.
É uma folha rasgada ao meio – nunca mais
se colará e ficará igual – rasgados também o coração, o peito e todos os órgãos
internos que bibliotecam emoções.
Pode ser também uma
decisão, um bater tonitruante e assertivo de uma mão fechada, no tampo da mesa,
uma consciência aguda, e desperta, olhos bem abertos, de que já não há mais
nada a fazer.
Por vezes é um alívio, uma libertação,
mas rasga na mesma. Uma mensagem escrita de separação é sempre uma decisão
definitiva, mesmo que depois venha a acontecer conciliação. No entanto, tudo muda
irremediavelmente.
Por isso é uma acção triste, outras
irada. A mistura das duas é a mais comum.
As palavras que se usam neste tipo de
mensagens são de dor, mas também de "nunca mais", de "não te
quero".
Mas nem sempre de "não te amo",
e quando é a indiciar isso, não é um indiciar verdadeiro, é um fingir, do que
te digo mas não penso.
Este tipo de carta tem também, quase
sempre, algumas frases de punhal, por vezes escondidas entre conselhos
despeitados: "quando voltares a amar outra pessoa, não lhe faças isto ou
aquilo que me fizeste a mim"...
Punhais e sangue são ingredientes comuns
nas cartas de separação.
Mas tristeza, impotência, desejo de que
não tivesse acontecido, também são frequentes. Por isso podem ser mensagens docemente
tristes: " vai ser melhor para ti".
Ou egóticas: "vai ser melhor para
mim".
Há que escolher, há que saber usar as
palavras com a minúcia de um bisturi.
Não gostamos nada de escrever cartas de
separação, mas se tiver de ser, mesmo contra vontade, faremos da forma mais
poética , talvez arredonde o impacto, e os desavindos voltem atrás na palavra.
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